E os primeiros relatos sobre a maravilhosa arte de especular.
Enquanto estudantes e trabalhadores punham o fim de mais um daqueles cansativos dias da semana ao sabor de seu corre-corre e teciam, a seus próprios modos, toda a vida daquele Terminal de Integração à beira da Praia Grande, nas televisões das casas do país inteiro aquele jornalista voltava a aparecer, tal como acontece ano após ano, para anunciar e convidar às inscrições os que sonham em participar daquele verdadeiro picadeiro de uma suposta vida real.
Suposta porque a vida real mesmo está em lugares como os Terminais de Integração. Estes são de passagens, de chegadas, de partidas, de despedidas e, principalmente, de permanência daqueles que vivem com a falta de oportunidades e que fazem a diferença surgir, contraditoriamente, em meio aquilo que é organizado para ser do mesmo jeito todos os dias. E assim ela surgia, com todas aquelas gostosuras de bombons e um punhado daquele jornal que eu odeio com todas as minhas forças.
Em meio aquele verdadeiro frenesi, estava ela agindo naturalmente enquanto parecia desafiar toda a cara que a gente que se mete a militante e cientista social bem sabe que a pobreza tem. A mim, que de fato perco mais tempo esperando um ônibus que às vezes nem passa do que no trajeto feito pelo dito cujo até a avenida mais próxima de casa, só restava fazer bom uso do tempo para observar e especular. E assim, a primeira hipótese se fazia e era aquela que dizia que tudo aquilo não passava de uma grande esperteza!
O plano era perfeito, porque beleza ela já tinha e a popularidade ela construía ao passo que sua identidade de vendedora de bombons ia sendo fortalecida. Porém, embora tivesse tudo para dar certo, minha primeira hipótese caía por terra com a mesma velocidade como ela surgira. O programa estreou, gerou polêmicas e principalmente muito dinheiro a seus patrocinadores, mas não houve por lá ninguém que tomasse para si a identidade de uma vendedora de bombons. Era uma especulação falha, mas o começo para muitas outras.
Ela: dona da voz que eu jamais ouvira, não era muda porque passava horas falando ao celular; não tinha como ser de família rica porque vendia bombons em companhia de sua mãe; não deveria morar em um bairro nobre porque seus amigos eram todos da periferia; e deveria ter feito inconscientemente aquela escolha sobre preferir dar bola às menininhas a qualquer cara idiota feito eu, hipótese esta mantida mesmo quando mais tarde eu descobriria que uma de suas supostas paqueras era na verdade a sua irmã.
Entre especulações, idas, vindas e principalmente, batalhas da vida, o pitel do Integração ia sendo construído nesse divertido quebra-cabeças de detalhes, nesta verdadeira arte de buscar sentidos em meio às histórias que cada pessoa carrega consigo, mesmo quando não sabe.
Enquanto estudantes e trabalhadores punham o fim de mais um daqueles cansativos dias da semana ao sabor de seu corre-corre e teciam, a seus próprios modos, toda a vida daquele Terminal de Integração à beira da Praia Grande, nas televisões das casas do país inteiro aquele jornalista voltava a aparecer, tal como acontece ano após ano, para anunciar e convidar às inscrições os que sonham em participar daquele verdadeiro picadeiro de uma suposta vida real.
Suposta porque a vida real mesmo está em lugares como os Terminais de Integração. Estes são de passagens, de chegadas, de partidas, de despedidas e, principalmente, de permanência daqueles que vivem com a falta de oportunidades e que fazem a diferença surgir, contraditoriamente, em meio aquilo que é organizado para ser do mesmo jeito todos os dias. E assim ela surgia, com todas aquelas gostosuras de bombons e um punhado daquele jornal que eu odeio com todas as minhas forças.
Em meio aquele verdadeiro frenesi, estava ela agindo naturalmente enquanto parecia desafiar toda a cara que a gente que se mete a militante e cientista social bem sabe que a pobreza tem. A mim, que de fato perco mais tempo esperando um ônibus que às vezes nem passa do que no trajeto feito pelo dito cujo até a avenida mais próxima de casa, só restava fazer bom uso do tempo para observar e especular. E assim, a primeira hipótese se fazia e era aquela que dizia que tudo aquilo não passava de uma grande esperteza!
O plano era perfeito, porque beleza ela já tinha e a popularidade ela construía ao passo que sua identidade de vendedora de bombons ia sendo fortalecida. Porém, embora tivesse tudo para dar certo, minha primeira hipótese caía por terra com a mesma velocidade como ela surgira. O programa estreou, gerou polêmicas e principalmente muito dinheiro a seus patrocinadores, mas não houve por lá ninguém que tomasse para si a identidade de uma vendedora de bombons. Era uma especulação falha, mas o começo para muitas outras.
Ela: dona da voz que eu jamais ouvira, não era muda porque passava horas falando ao celular; não tinha como ser de família rica porque vendia bombons em companhia de sua mãe; não deveria morar em um bairro nobre porque seus amigos eram todos da periferia; e deveria ter feito inconscientemente aquela escolha sobre preferir dar bola às menininhas a qualquer cara idiota feito eu, hipótese esta mantida mesmo quando mais tarde eu descobriria que uma de suas supostas paqueras era na verdade a sua irmã.
Entre especulações, idas, vindas e principalmente, batalhas da vida, o pitel do Integração ia sendo construído nesse divertido quebra-cabeças de detalhes, nesta verdadeira arte de buscar sentidos em meio às histórias que cada pessoa carrega consigo, mesmo quando não sabe.