quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sobre o que arde mais


Ardem os olhos sob efeito das bombas de gás lacrimogêneo jogadas pelo estado repressor e, tanto quanto eles, ardem também os nossos rostos diante do conservadorismo e tantas incompreensões. Exigir que não se manifestem agora aqueles que estiveram encampando uma série de lutas enquanto uma multidão estava adormecida, faz parte tanto de um grande jogo político da direita, como de uma imensa contradição da democracia tão reivindicada por aquelas e aqueles mais honestos.

Ontem, na manifestação que levou dezenas de milhares às ruas de Fortaleza, enquanto a marcha era alvejada pela polícia militar com bombas e balas de borracha, havia um setor que dividia o movimento e incitava um grito de “fora partido”. Não somente nós do PSTU fomos obrigados a retirar nossas bandeiras para participar da marcha, centrais sindicais como a CSP Conlutas, entidades estudantis como a ANEL e movimentos sociais como o MST foram também impedidos de fazer o que há muito é parte do seu dia a dia.

Fomos xingados, ameaçados por força física, cercados por uma multidão. Compreendemos toda a descrença das brasileiras e brasileiros em relação à política partidária, sobretudo após toda traição petista ao longo de dez anos no governo. Mesmo assim, permanecemos firmes na marcha e firmes seguimos orgulhosos em mostrar nossa política e nossa organização. Nos organizamos, debatemos, militamos diariamente. Deixar de ir às ruas agora seria negar toda a história que a gente constrói cotidianamente.

Podem fazer arder os nossos olhos, os nossos rostos, podem até ligeiramente nos entristecer, mas, diante da nossa necessidade e do desejo ardente de transformar realmente as coisas, tudo isso acaba que nos fortalece e nos faz perceber o quão grande é o tamanho e quão ousada é a nossa tarefa. “Calo-me, espero, decifro. / As coisas talvez melhorem. / São tão fortes as coisas! Mas eu não sou as coisas e me revolto.” (Carlos Drummond, em É tempo de partido).

domingo, 16 de junho de 2013

R$ 560,00


Acho graça da Fortaleza Apavorada que diz que não vai às ruas na próxima quarta-feira, quando acontecerá jogo do Brasil contra o México, justificando que a melhor forma de protestar contra os absurdos que acontecem neste país é indo vestido de preto à arena Castelão.

Na última semana, várias capitais do país explodiram em mobilizações que levaram às ruas milhares de jovens e trabalhadores, inicialmente debatendo a pauta do transporte público e de seus altos preços, mas ganhando proporções distintas e expulsando da garganta gritos de indignação que estavam há muito presos.

O valor cobrado por um ingresso para assistir a este jogo da Copa das Confederações em Fortaleza é quase o dobro do valor necessário para que um fortalezense possa comprar uma cesta básica, é mais de 80% do salário mínimo que se recebe após um mês inteiro de intenso trabalho.

Somos nós, os jovens e trabalhadores que não temos e que por isso não pagamos, os que mais sofremos com a falta de segurança que, quando não nos toma de assalto, nos espanca, nos detém, nos prende ou mesmo nos mata porque nos entende como inimigos.

É legítimo reivindicar segurança pública e protestar contra a violência, mas não questionar as causas desses problemas e a relação entre tudo isso e os governos é no mínimo inconsequente. Por isso é importante que se diga que entre nós há diferenças.

Diferente da Fortaleza Apavorada, nós – que também gostaríamos de assistir a Copa de perto – famílias removidas, trabalhadores em campanha salarial, estudantes sem carteirinha e sem direito à meia cultural, não estaremos de preto quarta-feira na arena Castelão, mas nas ruas, onde as lutas se darão.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Agenda setting


Serenata de amor foi a sobremesa de hoje no restaurante universitário. Sentei ao lado de uma moça que mostrava à amiga sorridente uma mensagem no celular. Em seguida, dizia contente: "Quer dizer, mulher, que eu estou namorando e nem sei?". 

Um pouco mais ao lado, um senhor contava saudoso a história de uma namorada que teve em sua juventude. Ao mesmo tempo em que comia sua laranja, lamentava o fato de a senhora do RU ter-lhe negado um chocolate. "Só dou para as meninas!", imitava ele repetidas vezes. 

Observei nas outras mesas que outros rapazes tinham chocolate em suas bandejas. "Talvez tivesse acabado", pensei. Ou talvez quisesse a senhora provocar qualquer cascaria só para poder chamar a atenção daquele senhor e assim esquecer qualquer solidão que ela sentia.

Talvez tudo isso, talvez nada disso, mas o fato era que, dos que mais queriam aos que não queriam, esqueciam todas de tudo e falavam todos do mesmo tema.

- Feliz dia dos namorados.
- Pra mim? Menino, não está fácil pra ninguém.
- É verdade mesmo. Com o governo Dilma, então...
 
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