Primeira metade da década de 90.
Graças a minha única e por isso melhor amiga, eu podia escolher pela espiada concedida pelas brechas feitas entre seus dedos, quem me tiraria de uma vez por todas daquele poço em que costumávamos cair todas as noites enquanto nossos pais assistiam ao jornal.
- Caí no poço! / Quem te tira? / - Meu bem. / Quem é teu bem? / - Alguém. / É esse? / - Não. / É esse? / -Não. / É esse? / - É! / Um aperto de mão, um beijo no rosto, um abraço ou um passeio completo? / - Um passeio completo.
Naquela época, um “passeio completo” tinha muito mais a ver com um beijo no rosto, um abraço e um passear de mãos dadas até o final daquela rua sem saída, do que com um traje que, mais tarde, seríamos obrigados a vestir por conta da formalidade de determinadas ocasiões.
De volta ao caso, a verdade era que graças à facilidade dada por quem fechava meus olhos na brincadeira, o meu escolhido era sempre o Cristiano, aquele dos tons de pele, olhos e cabelos de uma harmonia sem igual, e por quem eu nutria uma paixão tão grande que me fez fazer o que fiz.
Era uma bonita tarde de sol com a calma de pós-almoço que só as periferias têm quando decidi comprar um ploc para presentear o Cristiano. Não tendo eu resistido àquela gostosura em minhas mãos, avaliei que ele não se importaria caso eu lhe desse somente a metade. E assim o fiz.
Comi a parte de morango, porque naturalmente era a mais gostosa, e embrulhei a outra, cuidadosamente, em uma folha de caderno, porque eu precisava também ficar com a figurinha. Havia muito de romantismo em minhas ações. Feito o presente, pedi àquela amiga que o entregasse.
Ela voltou dizendo que o pedido havia sido entregue com sucesso, que Cristiano estava na sala quando o recebeu e que a família, ao ver a situação no mínimo engraçada, começou a rir e fazer uma verdadeira festa. O mais importante foi que ela disse também que ele havia ficado envergonhado.
Anos depois, quando já não mais masco chiclete, embora goste do gosto, reencontro aquela com quem compartilhei importantes momentos de minha infância. Conversa vai, conversa vem, e em meio a muitos risos ela confessa que, na verdade, o Cristiano nunca recebera aquele presente.
- Foi que eu comi a outra metade do ploc. - Confessou.
E como o tempo tem o poder de fazer com que uma mesma confissão possa te levar da acidez à doçura, sorrimos. Sorrimos porque esta, que poderia ter tido outro gosto, veio doce, como o sabor daquele saudoso ploc.
Graças a minha única e por isso melhor amiga, eu podia escolher pela espiada concedida pelas brechas feitas entre seus dedos, quem me tiraria de uma vez por todas daquele poço em que costumávamos cair todas as noites enquanto nossos pais assistiam ao jornal.
- Caí no poço! / Quem te tira? / - Meu bem. / Quem é teu bem? / - Alguém. / É esse? / - Não. / É esse? / -Não. / É esse? / - É! / Um aperto de mão, um beijo no rosto, um abraço ou um passeio completo? / - Um passeio completo.
Naquela época, um “passeio completo” tinha muito mais a ver com um beijo no rosto, um abraço e um passear de mãos dadas até o final daquela rua sem saída, do que com um traje que, mais tarde, seríamos obrigados a vestir por conta da formalidade de determinadas ocasiões.
De volta ao caso, a verdade era que graças à facilidade dada por quem fechava meus olhos na brincadeira, o meu escolhido era sempre o Cristiano, aquele dos tons de pele, olhos e cabelos de uma harmonia sem igual, e por quem eu nutria uma paixão tão grande que me fez fazer o que fiz.
Era uma bonita tarde de sol com a calma de pós-almoço que só as periferias têm quando decidi comprar um ploc para presentear o Cristiano. Não tendo eu resistido àquela gostosura em minhas mãos, avaliei que ele não se importaria caso eu lhe desse somente a metade. E assim o fiz.
Comi a parte de morango, porque naturalmente era a mais gostosa, e embrulhei a outra, cuidadosamente, em uma folha de caderno, porque eu precisava também ficar com a figurinha. Havia muito de romantismo em minhas ações. Feito o presente, pedi àquela amiga que o entregasse.
Ela voltou dizendo que o pedido havia sido entregue com sucesso, que Cristiano estava na sala quando o recebeu e que a família, ao ver a situação no mínimo engraçada, começou a rir e fazer uma verdadeira festa. O mais importante foi que ela disse também que ele havia ficado envergonhado.
Anos depois, quando já não mais masco chiclete, embora goste do gosto, reencontro aquela com quem compartilhei importantes momentos de minha infância. Conversa vai, conversa vem, e em meio a muitos risos ela confessa que, na verdade, o Cristiano nunca recebera aquele presente.
- Foi que eu comi a outra metade do ploc. - Confessou.
E como o tempo tem o poder de fazer com que uma mesma confissão possa te levar da acidez à doçura, sorrimos. Sorrimos porque esta, que poderia ter tido outro gosto, veio doce, como o sabor daquele saudoso ploc.