quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Três da manhã

Ataque de síntese.

Após ver a vida em luzes piscando pela madrugada, levantar-se do lugar onde costumeiramente sonho, parece ser infinitas vezes menos fácil. O sol bate forte à janela e em lugar de passarinho é o despertador que me canta. Acabo de descobrir que se não levanto, se quero calar o canto sem, porém, desligá-lo, minha única opção é adiá-lo por nove minutos. E nove são três vezes três. São meus sonhos divididos em três partes.

Bom dia.

sábado, 9 de maio de 2009

Como assim, papaya com cassis?

Papaya com Cassis. Esse é o mais novo sabor de sorvete que mamãe acaba de adquirir em uma das lojas da rede de supermercados Bom Preço. A mim não cabe questionar aqui se o preço do produto era realmente bom, mas após a surpresa em abrir o congelador e diante da fome que me assalta fielmente a cada madrugada, só me eram constantes dois questionamentos.
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Primeiramente, que diaxo é cassis? Depois, havia alguma necessidade óbvia para ela ter feito isso? E nem pensem que essa tenha sido a primeira vez! Já adianto que mamãe insiste em comprar sorvete napolitano quando ela sabe que ninguém, mas ninguém de verdade, nem mesmo ela, gosta de sorvete de chocolate. Daí que todo mês é aquela velha ladainha coletiva.
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Embora ela já tenha comprado até sorvete de Rum, não se deixem levar pela idéia de que a inovação toda se finda nas coisas geladas. Em meu primeiro estágio, por exemplo, sofri muita opressão. Por várias vezes fui alvo de risos e piadas e por pouco não fui duramente torturada, tudo porque eu levava para o lanche wafer de maracujá, limão, goiaba... Enfim, os sabores que só mamãe consegue encontrar nas rondas que ela faz quando vai às compras.
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Diante de tamanha frustração e ainda com fome, alguns minutos depois descobri que cassis, ou groselha negra, é uma fruta chic que teve origem lá pelas bandas da Europa do Norte. Isso só me faz confirmar o que eu já sabia: mamãe é mesmo uma mulher moderna. Moderna e engajada, eu diria até! Uma vez que está aberta às novas possibilidades e ousa, sem temor algum, experimentar o que ainda pode vir a ser tendência.
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Mas, eu-não-gosto-de-mamão! Então protesto do mesmo jeito. Como pode ser a vida tão doce, mesmo quando cruel? Um sorvetinho lá, de madrugada, dando bola pra mim. A madrugada tinha tudo para ser linda e ele tinha tudo pra ser gostoso, mas era fato que ele não era. E mamãe? Essa bonita sabe que eu não reclamo da vida e que eu a amo e lhe dedico os mais puros dos meus sentimentos, então estava lá dormindo, claro. Tranquilamente.
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Ah, mas amanhã a gente vai ter uma conversinha. Porque isso não é coisa que se faça. E ela é esperta, porque amanhã é Dia das mães! Foi tudo estratégico! Como ela pode ter feito isso comigo? Mas eu não estou nem aí, marrapaz! Marrapaz! Eu sou é mal. Deixa só amanhecer. Ou eu ou os sabores esquisitos das coisas doces que ela arranja. Não quero nem saber.
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(Algumas horas depois)
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Feliz dia das mães, mamãe. Eu te amo que só. Ah, e a senhora é a mãe mais perfeita do mundo. ^^

sábado, 31 de janeiro de 2009

Se Pasárgada fosse Roma

Das dezenas de fitinhas do Senhor do Bonfim ou de São José de Ribamar que amarrara em seu braço com direito a três pedidos, nenhuma o tempo conseguiu fazer desatar. Havia um quê de categoria e tradicionalismo naquilo que se pedia. Apertava-se bem os olhos e as palavras sem som que seguiam eram as mesmas: comer pizza todos os dias, ganhar um brinquedo da hora e passar de ano na escola.
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A verdade é que passar de ano nunca fora lá grande problema e a recompensa por isso poderia até não ser um “brinquedo da hora”, mas certamente era algo que muito se queria ganhar. A confusão mesmo estava em convencer os santos de que pizzas, com seus metros e mais metros de mussarela bem esticada, pudessem ser alimento diário de uma família inteira.
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Isso gerou uma revolta. Foi uma infância inteira a persistir naquilo que os santos julgavam ser impossível. Foram fitas das mais diversas cores. Houve até um momento em que os três pedidos tornaram-se um, tamanha era vontade do inalcançável. E assim, iam: comer pizza todos os dias, comer pizza todos os dias e, para variar um pouco, comer pizza todos os dias.
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Mas as fitinhas nunca se desfizeram.
Que droga! Aqui não se pode nada!

Arruma cuidadosamente os brinquedos. Parece querer fugir de casa. Em casos como esse, há um único lugar para onde se pode ir: P-a-s-á-r-g-a-d-a. Isso, mesmo. A Pasárgada de Manuel Bandeira. Lá se pode tudo porque o rei é amigo. “Vou-me embora pra Pasárgada, porque lá sou amigo do rei!”. Não se sabe se quem exclamou foi a menina, sua vontade de pizza ou as duas.
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Fico cá pensando eu... Se Pasárgada fosse Roma, não ia querer ser amiga do rei, não. Afinal, vejamos bem: se o rato rói a roupa do próprio rei, o que dizer do fazer do rato com as roupas dos reles amigos da majestade? Creio ainda que, se o rato rói roupas, é porque lá não deve ter mussarela, “e sem mussarela, não há pizza!”, já dizia um filósofo daqueles dos bons. Pensando bem, melhor ficar em casa...
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Ei, mamãe, faz um misto quente pra mim?
 
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