Acordei às 6h, tomei banho e café e segui sem óculos para o trabalho porque sempre acreditei que são mais simpáticas as pessoas que não usam óculos durante as primeiras horas do dia, ainda que elas sejam míopes, que não cumprimentem as pessoas por não tê-las reconhecido, que percam alguns ônibus por não terem conseguido ler letreiros ou outras coisas parecidas.
Em lá chegando, abri a porta de minha sala e, ainda sem óculos, pus em prática tudo aquilo que um tímido que se preza ensaia diariamente durante seu percurso para que tenha a completa certeza de que as coisas acontecerão de forma natural: um sorriso largo, porém discreto; um bom dia animado; uma caminhada de uma ponta à outra até a geladeira; um copo com água.
Eu estava mandando muito bem, até que uma colega de trabalho me chamou até a porta e comentou com voz de discrição: - Ei. Fomos roubados na noite passada. Serraram a grade, quebraram o vidro da janela, entraram na sala e levaram todos os nossos monitores de LCD. Abri a porta novamente e, em um piscar de olhos, a cena estava exatamente ali, completamente montada.
Os cacos de vidro no chão, as grades retorcidas da janela, as pegadas empoeiradas sobre o estofado da cadeira, aquele vazio de monitores ausentes sobre a bancada, minhas digitais na geladeira, aquela piada que eu e uma amiga fizemos quando nossas bolsas tiveram atraso no depósito, a forma como meus olhos passeavam pelo livro que eu fingia ler enquanto a polícia federal vistoriava o local, tudo levava a crer que eu era a maior suspeita.
Mas era claro que eu não era.
Depois daquele, na Universidade Federal do Maranhão aconteceram tantos outros roubos e mesmo assaltos que muitos de nós talvez só teremos conhecimento quando a administração superior ordenar aos trabalhadores de sua assessoria que o divulguem para então justificar seus planos de segurança armada, catracas eletrônicas e fechamento dos portões que dão acesso às comunidades vizinhas, como o Sá Viana e a Vila Embratel.
Na Ufma, não se fala em concurso público para substituição de uma segurança feita de forma terceirizada que serve para intimidar estudantes em reivindicação e trabalhadores que fazem o trajeto pelo campus porque não podem pagar o valor cobrado pelo transporte público, mas que em contrapartida não consegue arcar nem mesmo com o seu principal, porém absurdo objetivo, o de proteger o patrimônio físico da Universidade.
Eu não queria, mas já há algum tempo voltei a usar óculos às primeiras horas da manhã. Fez-se necessário.
Em lá chegando, abri a porta de minha sala e, ainda sem óculos, pus em prática tudo aquilo que um tímido que se preza ensaia diariamente durante seu percurso para que tenha a completa certeza de que as coisas acontecerão de forma natural: um sorriso largo, porém discreto; um bom dia animado; uma caminhada de uma ponta à outra até a geladeira; um copo com água.
Eu estava mandando muito bem, até que uma colega de trabalho me chamou até a porta e comentou com voz de discrição: - Ei. Fomos roubados na noite passada. Serraram a grade, quebraram o vidro da janela, entraram na sala e levaram todos os nossos monitores de LCD. Abri a porta novamente e, em um piscar de olhos, a cena estava exatamente ali, completamente montada.
Os cacos de vidro no chão, as grades retorcidas da janela, as pegadas empoeiradas sobre o estofado da cadeira, aquele vazio de monitores ausentes sobre a bancada, minhas digitais na geladeira, aquela piada que eu e uma amiga fizemos quando nossas bolsas tiveram atraso no depósito, a forma como meus olhos passeavam pelo livro que eu fingia ler enquanto a polícia federal vistoriava o local, tudo levava a crer que eu era a maior suspeita.
Mas era claro que eu não era.
Depois daquele, na Universidade Federal do Maranhão aconteceram tantos outros roubos e mesmo assaltos que muitos de nós talvez só teremos conhecimento quando a administração superior ordenar aos trabalhadores de sua assessoria que o divulguem para então justificar seus planos de segurança armada, catracas eletrônicas e fechamento dos portões que dão acesso às comunidades vizinhas, como o Sá Viana e a Vila Embratel.
Na Ufma, não se fala em concurso público para substituição de uma segurança feita de forma terceirizada que serve para intimidar estudantes em reivindicação e trabalhadores que fazem o trajeto pelo campus porque não podem pagar o valor cobrado pelo transporte público, mas que em contrapartida não consegue arcar nem mesmo com o seu principal, porém absurdo objetivo, o de proteger o patrimônio físico da Universidade.
Eu não queria, mas já há algum tempo voltei a usar óculos às primeiras horas da manhã. Fez-se necessário.
8 comentários:
Camila, o seu post de hj parece-me mais uma reinvidicação, como a muitos anos n/frequento a UFMA e nem sei mais o que rola por lá ( a não ser uma polêmica sobre fechar o muro entre a Universiade e o Sá Viana)...Bem, nossa cidade está com uma cara de cidade gde, com seus trânsito cáotico ( e ainda uso óculos de manhã e vejo e sinto na pele), desmastamento para fins comerciais em todos os bairros, venda informal em todo o centro, falta de saneamento básico em qlq bairro, violência (minha casa já foi arrombada 2x), então, temos todas as mazelas possíveis e impossíveis, fazer o quê? Não tenho as respostas a não a ser a óbvia, mudarmos nossos governantes, todos! E nós, cidadões, fazermos nossa parte, em todos os sentidos!
Uma boa semana! Bj*
PS: Vc demorou,mas antes tarde do que nunca, não é o que dizem?
Frank, esta história, quando contada pessoalmente, chega a ser bem engraçada, até. Mas a ideia de trazê-la para o blog era mesmo essa, de crítica e reivindicação.
Temos muitos problemas cotidianamente: o transporte público, a não garantia de direitos como saúde, educação, cultura, comunicação.
Tanta coisa que nem sei se a melhor alternativa é mesmo mudar todos os governantes. Talvez, como Brecht já dizia, não ter governantes seja a saída.
Sobre a demora, peço desculpas a ti e aos demais leitores, pois estive ausente por conta da participação no Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação (Enecom) que aconteceu em João Pessoa, na Parahyba.
Mas agora, de volta à ilha, de volta às palavras.
Um abraço,
pois eu quero ouvir pessoalmente *.*
ai camilinha, esse muro é uma vergonha, essa parada da segurança é fato..
uma merda =/
eu gostei que só do post, tu sabe que eu gosto muito quando tu escreve assim rs essas coisas que mechem comigo.
Tanta coisa que nem sei se a melhor alternativa é mesmo mudar todos os governantes. Talvez, como Brecht já dizia, não ter governantes seja a saída.[2]
é ótimo te ter de volta =***
Camila, a cada novo texto seu que leio, nos seus diversos gêneros possíveis, me fazem enamorar ainda mais pela verve de tua escrita; nada estranho para quem a conhece...
grande beijo!!!
Pipoca!
Lamentável mesmo. Aqui, as Universidades usam mesmo serviço terceirizado. Não dá para ficar só com o pessoal da instituição.
Mas talvez agora depois disso aí o reitor e as outras pessoas (ir) responsáveis façam algo a respeito.
E ah, quando eu usava óculos, usava pela manhã. Sou fotofóbica, e a claridade me deixa cega. Risos.
Beijo.
é sempre bom te visitar, companheira
Eu tenho - cá pra nós e um pedaço da blogosfera - um fascínio por mulher que usa óculos... Talvez isso se deva ao fato de eu nunca ter tido a oportunidade de me relacionar com nenhuma!
Eu tenho, também - essa é pior que a outra -, uma vontade de usar óculos, mas, infelizmente minha visão é perfeita!
Subentende-se que quem usa óculos é intelectual, portanto, por eu gostar de tudo que diga respeito a intelectualidade, talvez seja só uma paranóia minha achar que mulheres de óculos são intelectuais ou que elas me considerarão intelectual por eu estar de óculos... É... A pessoa pode estar de óculos e não teu um pingo de cultura... Será..?
Bem, deixa pra lá, que o teu blog não é lugar pra escrever um texto desse tamanho! Que absurdo!
Um abraço!
Hahaha Léo, já começarei dizendo que comentários imensos sobre meus textos me trazem um tanto de alegria. É exatamente essa a ideia do Zine Colorido, fazer ler, sorrir, refletir e escrever.
Me identifiquei com essa tua espécie de angústia. Eu mesma, quando criança, cheguei a escrever cartinhas para papai noel e "papai do céu" pedindo que eu usasse óculos. Eu achava lindo!
Hoje, isso me faz refletir que precisamos realmente ter muito cuidado com o que pedimos, afinal de contas, tem pedido que é concedido. E o meu foi, e hoje eu me arrependo. Hehehe.
Bom, um abraço e obrigada pelas reflexões.
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