domingo, 9 de março de 2008

Meninos que dão em árvore

Por mais que eu sempre tivesse querido, biologicamente falando, nunca tive um irmão. Como eu demorei bastante para falar, o meu forte mesmo era observar e, se fosse algo viável de ser imitado, falando aqui do ponto de vista da discrição, eu o faria. Foi assim que, quando criança, me peguei algumas vezes tentando andar como papai ou pior, me pegaram com a mão na lâmina de barbear e o rosto cheio de creme a um passo de cometer o meu primeiro ato infracional. Uma verdadeira delinqüente!
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E foi assim que eu cresci. Em meio a um monte de meninos correndo nas ruas da periferia do São Francisco. Éramos muitos. Como a rua era fechada, a concentração era grande e o barulho em frente às casas, maior ainda. Na mesma idade que eu havia somente uma menina, isso fazia com que a regra para nós duas fosse bem clara: ou passaríamos o dia inteiro brincando de preparar comidinhas imaginárias, ou nos juntaríamos aqueles mais de dez meninos loucos e teríamos mil e uma opções de brincadeiras diárias! Uhu!
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Fazer uma decisão dessas não era tão simples como pode parecer. A começar pela educação que tínhamos e que, ainda hoje, temos em nossas escolas. Desde crianças não somos estimulados a trabalhar o corpo e a nos preparar fisicamente com um discurso cada vez mais forte de que isto acontece por conta de uma “questão cultural”, afinal, estamos na cidade, não? Os meninos ainda conseguem subverter esta lógica quando, no horário do recreio, correm, sobem nas mesas, se penduram nas escadas e liberam toda sua energia. Para mentes conservadoras, é natural que os meninos se comportem desta forma, mas se há ali uma mudança de gênero e a condição agora é cabida às meninas, pode ter certeza de que a repressão se fará.
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Mas, quem se importa? Minha tia se importava, e muito. “Camila, cadê tua mãe?”, perguntava ela sempre que me via na rua feliz da vida brincando com um monte de meninos. Ah, e vale lembrar que feliz mesmo quando o dedão do pé estava arrebentado porque, naquela época a rua não tinha asfaltamento. Mas, mais legal mesmo foi a cara dela ao ver, em meio às minhas adoráveis pecinhas de lego lego, alguns carrinhos. Ora, eu só tinha uma amiga e nós havíamos decidido por consenso que brincar com os meninos era mil e uma vezes mais divertido, ter barbies naquela situação não era nada inteligente.
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Mas eu não me importava. Tinha mais coisas com o que me preocupar, afinal, precisávamos “deliberar” em alguns calorosos minutos de discussões e brigas, do que iríamos brincar à tarde, na hora do “vale à pena ver de novo”, se seria de “com licença, Beth”, “rouba bandeira”, “polícia e ladrão”, “quem chega primeiro”, “remaninho, remaninho”, “arame e lego”, “passinho ou gol” ou de alguma outra proposta que surgisse no momento para apimentar ainda mais a discussão.

27 comentários:

Beto Corpin disse...

Brincar na hora do vale a pena ver de novo...
Que lembranças boas da minha infância você me trouxe. Algumas divergencias com o nome de certas brincadeiras, mas não posso contestar que elas são sempre tão divertidas.

elenmateus disse...

huahuahua

Chapolin eu tive uma infância parecida: dois irmãos e todos os meus primos homens, com exceção de duas primas, sendo que uma não morava aqui em São Luís!

Na rua: só duas meninas legais!(até q tinham outras, mas muito muito chatas mesmo... e mãe delas nao deixava tb elas se misturarem c a gentalha da rua né...)Mas quando a gente decidia brincar de boneca, lá vinham os meninos destruir nossas roupinhas, casinhas etc, só p gente brincar c eles! era massa! eu brinquei muito de todas as brincadeiras de rua que tu citaste... saudades...
***
ah, uma coisa é mesmo verdade: repressão de gênero na infancia. As maes das meninas e a minha, minhas tias, as vizinhas diziam: vc ja tah ficando mocinha (odeio quem fala isso pruma criança em desenvolvimento, ela já sabe q ta crescendo oras), num pode tah se misturando c esses meninos, eles nao vao te respeitar qdo vc crescer... que saco!

Camila Chaves disse...

hahaha na verdade, "remaninho, remaninho" nós só conhecemos na minha rua.

era aquele "boca de forno? forno! jacarandá? dá! se eu mandar? vô! e se não ir? 'panha' um bolo!"

daí o comandante da brincadeira dizia: "raminho, remaninho..." e soltava o pedido mirabolante.

na verdade, nem sei se era "remaninho, remaninho", mesmo. só sei que eu entendia assim. hahaha.

Anônimo disse...

Camilinha,que maravilha de texto!Me fez relembrar a minha infância em que brincava com os meninos da rua.Aqui em Goiânia, as brincadeiras da minha época eram: garrafão,balança caixão, polícia ladrão(todo mundo queria ser ladrão)e mais um monte de outras brincadeiras de correr de um lado para o outro da rua -acho que Deus protege as crianças mais que os outros seres.Mas eu bem que colocava meus dois primos para brincar comigo de "coisas de meninas",os dois coitados tinham que fingir que cozinhavam e tudo mais para me agradar! kkkkkkk
beijão!

Anônimo disse...

Me esqueci de falar sobre uma parte maravilhosa da minha infância.qdo eu tava meio grandinha(uns8 ou 9 anos)veio a febre dos patins.dai a rua ficava cheia de menino de patins pra cima e pra baixo.os meninos mais corajosos(o que nunca foi o meu caso)pulavam bicicleta,faziam manobras...uma menina até quebrou o braço a apareceu no jornal por conta dessas estripulias.Foi a maior sensação da rua,até pq tiraram fotos da gente andando de patins,fomos manchete ^^.
E sim,até hoje minha mãe guarda o jornal ¬¬

gibaozinho disse...

HUHAHUAUHA POXA ..BRINCAR NA RUA ERA BOMDMAISIOOOOO AAHUAHUAUHUH
QUERO VER COMO VAI SER ...MEU FILHO N VAI TER A SORTE DE BRINCAR EM RUAS TRANQUILAS =/
HEHEHEH
=****
bom texto

Annelize Tozetto disse...

Nossa. Eu sou uma frustrada também. Eu não tenho nem irmão, nem irmã. Eu tenho uma prima da mesma idade e tudo mais. Só que era sem graça ficar em casa? Muito chato. Aí eu saía pra brincar com a molecada da área. Tão mais legal: pique-esconde, polícia ladrão... e todas essas coisas que fazíamos nas tardes ociosas (se bem que as minhas eram poucas já que eu estudo desde os meus dois anos). Eu gostava de andar de bicicleta também. E brincava muito na escola. Uma vez, levei um murro de um menino no estômago (delicado que só o rapaz! ¬¬), mas eu superei isso e voltei a brincar (e quase soquei o coitado na parede).

Mas ó, definitivamente, ter uma barbie... não era comigo. Vez ou outra ainda rolava, mas aie. Muito sem graça. Ainda mais pr'eu que ainda sou considerada a moleca da família (opressão.)

Enfim, seu texto é ótimo. E pra variar, fez eu dar aquela viajada né? :D
Uhuuulll.
Beijos

Anônimo disse...

su estoria, mi estoria.

e é porque eu não sei falar/escrever espanhol.

haha.

Camila Chaves disse...

hahaha ah, só pra registrar, eu tenho uma irmã. só que ela é dois anos mais nova que eu.

caaara, quando essa menina cresceu, era o cão. atentada! daquelas que quando mamãe ia dormir, trancava o portão, dava um jeito de sair por baixo.

outro episódio foi quando ela subiu em cima da casa e não conseguia descer. papai nem mamãe estavam em casa e tive que chamar um vizinho para resgatá-la.

ah, ela também me deu um "murro" no estômago. acho que passei o restante do dia enrodilhada tentando tomar fôlego.

Annelize Tozetto disse...

Há! Eu sei que você tem uma irmã mais nova. Mas nunca é a mesma coisa do que ter um irmão moleque - quer dizer, eu acho que não deve ser.
Se bem pelo que você escreveu agora... tua irmã era virada no avesso né? Chegou pra abalar geral. Nem pensou duas vezes e uopa! Foi na voadora. ... ahuhauhauhauaaa... mas aie. Mesmo assim, fiquei com inveja.

Tayago disse...

Camilinha ...Não vou ler os outros antes de comentar, para que eles não influênciem o meu comentário.
Queria te dizer que foi lindo o texto, e que a minha (e acho que de todos) infância também foi permeada por essa junção de meninos e meninas brincando juntos.(O que ao contrário de tua tia, acho superválido)

Queria dizer pra ti que, mais do que homenagem ao homens, esse texto é uma "Ode as mulheres que derrubam barreiras e desde pequenas lutam contra as opressões".

E que cada vez mais espero que pais e mães sejam inteligentes a ponto de criarem seus filhos com todas as linhas (pensamentos) sem os prender a nada. E que eles façam suas escolhas.
Beijos ...

Unknown disse...

Camila é capaz de negar a existência da própria irmã por um bom texto.
É comuniCÓLOGA! Não me pergunte o porquê do CÓLOGA em caixa alta.
Tudo em caixa alta faz parecer ter duplo sentido. Acho legal. "Acho digno", já dizia uma personagem de uma peça de comédia.
E brincadeiras infantis?
Cola-descola e esconde-esconde. As mais simples, as favoritas.
Beijo Camilinha, a Camilinha que eu falo.

Anônimo disse...

Camilete, quem teve infância fomos nós maiores de 20! Como era legal correr na rua brincando de rouba bandeira, lembro que eu escondia a bandeira, (pra não dizer o pau) dentro da blusa e saia correndo!!!!

Anônimo disse...

Cara, sinceramente, fiquei impressionado.

Tu escreves muito bem.

E "muito bem" seria até pouco pra dize o quanto eu gostei desse texto.

favoritada!

Anônimo disse...

*dizer ¬¬

Anônimo disse...

Camila minha maninha... Eu era uma peeeeste mesmo!!rsrsrsrs Lembro do dia que saí de casa por baixo do portão só pra brincar na rua com os meninos de corridaa até o moro.rsrsrsr Foi engraçado. Que lembranças boas de um tempo que infelizmente nunca mais voltará mas que nunca serão escondidas ou apagadas de nossas memórias.Tempo bom aquele em que não nos preocupavamos com praticamente nada e ainda tinhmos tempo para zuar, zur, zuar...rsrs Ô tempo bom! Queria que as crianças de hoje pudessem brincar livres nas ruas e saber o real gosto da vida de criança que só sentimos quando somos criança, pois depois que crescemos, tudo muda.Ficamos mais tímidos, as preocupações chegam, as obrigações também e uma série de coisas que precisamos fazer para sobreviver a esse mundo de hoje onde crianças se escondem dentro de suas casas em frente a um computador (as que tem um em casa) e esquecem que lá fora tem uma rua,um mundo inteiro de magia e brincadeiras, outras crinças e um monte de brincadeiras que podem brincar e se elas não axistem, eles podem inventar.
Adorei mesmo o texto.Me fez lembrar do tempo feliz que vivemos...
TE AMO MANINHA!!!!

Anônimo disse...

oi camila!
acabei de chegar no seu blog, indicado pela miga Anne. aliás, te conheci pela famosa postagem das axilas.
um grande abraço, e te convido a clicar na minha radiola quando quiser!

Anônimo disse...

A equipe Mal Começo agradece, volte sempre que quiser, além de games e mangás, estaremos disponibilizando outros assuntos como Música, Saúde, Cultura, Política, Tecnologia, Religião, e por aí vai!

Paz aew.
ass.: Budz

Unknown disse...

Camilinha!!!!
n consegui parar de ler...
euhauhuaea
me diverti muito! lembrei de muita coisa da minha infância...
li os outros textos tbm... e espero ancioso por uma nova postagem!
heuahea ...o texto da galinha foi uma viagem muito engraçada!!!
euahuhaeu
vc n precisa nem assinar... seu jeito de escrever é totalmente reconhecível!
Abração!
Parabéns!

Davi Gentilli disse...

pô....
viajei pra mais de 15 anos no passado..
passei minha infância morando em um prédio (pequeno, de 12 apartamentos) e em uma rua movimentada. Isso limitou bastante as brincadeiras da molecada. Meninas tinham poucas no prédio e não costumavam se misturar com a gente. Além do tradicional futebol, a gente brincava muito de lego, andava de bicicleta (dávamos voltas na garagem rsrsrs. q tosco!)... também jogávamos muito bete (não se é assim q escreve). Era muito bom! Os adultos ficavam doidos, pq rebatíamos a bola sempre na lataria dos carros... O que o espaço do prédio favorecia era na hora de brincar de pique-esconde. Dava muito esconderijos. Putz, a melhor brincadeiras de todas! Sempre fui o mais baixinho, por isso perdia na hora de correr, mas aproveitava meu tamanho para os melhor me esconder. Sabe que muitos anos depois, já de barba na cara, eu e uns amigos inventamos de brincar de pique-esconde de novo... cansamos fácil, não somos mais crianças...
Caramba!!!! lembrei agora que as vezes fazíamos as olimpíadas do prédio. Durava vários dias. Tinham várias modalidades, inclusive inventadas por nós, como patinsbol (futebol jogado de patins) e futgolf (jogávamos golf chutando uma bola pra acertar os bueiros)

ê, tempo bom....

Unknown disse...

só tenho uma discordância...e é qto o nome de uma atividade recreativa infantil(brincadeira...uhauahuah) e acho que a maioria dos meninos que "brincavam na rua na hora do vale a pena ver denovo"(pô...era muita secura!!Isso era às 14:00 com o sol de rachar!!Mas enfim...)

sim...o nome da brincadeira não é "passinho ou gol"!!!Poxa Camila!!!Era passegollinha(que quer dizer passe ou gol, e eu tô na linha!!!) ou primedisafiadoéomeu(que quer dizer primeiro desafiado é o meu...quer tbm dizer que ele não conseguiu dizer a primeira palavra toda juntinha lá de cima e ficou frustado mas não podia ficar pra 2ºdesafiado...)auahuahuaa...nossa eu lembrei de cada coisa agora...

Concordam garotos?

Camila Chaves disse...

não sei se o "passe ou gol" foi uma variação de localidade, mas afirmo, com toda certeza, que aqui na perfieria do são francisco o pessoal falava "passinho", no diminutivo. rs. talvez fosse por conta de falar rápido, também, como o "primedisafiadoéomeu". enfim. só sei que tenho saudade desse tempo. (=

Anônimo disse...

Te entendo.
Eu também queria muito ter um irmão, quando era criança.
Sofria ainda mais porque tinha só uma irmão, e ela ainda vivia no hospital porque tinha altas crises de asma. resumindo; eu não tinha com quem brincar. ;~
Tanto que, na minha infância conturbada, o que me salvou foi um primo meu, que eu considerava ele um irmão que eu nunca tive.
E eu só andava com os meninos, tanto no condomínio que eu morava, quanto na escola.
E realmente, era muito mais legal.
Eu não me recordo de nenhuma amiga que eu tive quando criança mesmo.
Se tinha, nem me importava.
Tinha um receio imenso das meninas do colégio, elas eram frescas demais, bonitas demais, perfeitas demais.
Enquanto eu vivia correndo e toda assanhada. HAuhauhauha
Mas nunca fui oprimida por conta disso, não. Todo mundo sabe que na infância, os meninos são mais legais. :D

gato de Schrödinger disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
gato de Schrödinger disse...

(obs: apaguei o comentário de cima porque tava cheio de erros!)

gato de Schrödinger disse...

Ora, ora... Que bacana. Rememorações da infância são realmente fantásticas. Não raro, me pego em nostálgicas sessões de recriar fatos marcantes da minha meninice, me irritanto fácil quando não consigo lembrar de alguma coisa mais importante ou simplesmente me perdendo numa pasma sensação de constatar que, sim, há milhares de séculos atrás, eu também fui criança!

Fui criança, sim, e das mais atentadas. Até hoje, percebo viscerais influências da minha mal-criação congênita e inata nas minha atitudes. Claro, me analisando, nunca encontro nenhuma propensão muito maligna, apenas uma ingênua e romântica vontade de não obedecer ordens ou padrões preestabelecidos. O de sempre.

Mesmo que fizesse muito esforço, acho que minha imaginação jamais conseguiria saber ao certo a sensação de ser uma menina. Mas, sei lá, apesar de na infância essas diferenças sexuais estejam, até certo ponto, adormecidas, ainda ssim os adultos fazem questão de exercer seu papel corruptor e vão dificultando as brincadeiras, principalmente no caso das meninas. Deve ser difícil ser uma menina e querer brincar com meninos, como os meninos. Quer dizer, depende da família. Mas acho que no geral não são muitos os pais que acham uma coisa saudável para as gurias ficar brincando de polícia-e-ladrão, pegador, esconde-esconde... gato-mia...

Excelente texto, moça. Parece que você tem o feliz hábito de falar sobre os assuntos que mexem conosco mais profundamente.

Beijo. Até a próxima.

Francilyz disse...

Cachinhos de ouro eu te amo, na minha infância também gostava de brinacar na rua, é que o mundo hoje está muito violento você e sua irmã são as filhas que não tive, por isso os cuidados e preoucupações.

 
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