Aceitei Jesus e voltei para casa com um peso imenso na consciência.
Eu só queria brincar, juro. Mas os danados dos meus coleguinhas tinham mesmo umas manias bestas para escolher divertimento, de modo que, se nas noites anteriores preferiram assistir às Chiquititas a brincar de rouba bandeira, naquele dia simplesmente decidiram que deveríamos fazer parte do grupo de adultos que se animavam em frente à casa do Juninho.
Acontecia que, de tempos em tempos, os pais do Juninho organizavam lá na rua atividades da igreja da qual faziam parte. Até que as coisas eram animadas, reconheço: tinha música, cantos, palmas, histórias e às vezes até lanche! Mas confesso que quanto mais perto chegava do fim, mais alegre eu ficava, porque então poderia correr, gritar, brincar de roubar e fazer o que mais desse em minha cuca de lelé.
Ledo engano.
Ao final, todas as pessoas que haviam participado daquele ritual pela primeira vez, inclusive nós, pobres e indefesas crianças, fomos convidados a ir à frente e responder, um a um, ao questionamento que encerraria aquela noite: – Você aceita Jesus? – Meu Deus do céu, como poderia eu ou qualquer outra pessoa recusar Jesus ali diante de todos aqueles olhos? – Sim...
Aquele episódio dava início a uma longa madrugada em claro. Era verdadeiramente um drama, porque eu era consciente que o que eu dissera não fora ao meu amigo Jesus, mas sim àquela igreja que, por sinal, não era a mesma Católica Apostólica Romana que ditava as regras que serviam de base à educação e às formas de ver o mundo que minha família me impunha.
Demorei, mas superei. Ninguém nunca soube, mas a ideia do pecado simplesmente me seguia, perseguia, curtia. Se havia um lugar onde eu não poderia tossir, eu sabia que esse lugar era a igreja, porque tossir na missa era pecado, assim como era pecado falar, escrever ou pensar na palavra “bunda”, não só na igreja, mas em qualquer que fosse o lugar.
Era confuso. Praticamente tudo era pecado. Não amar era pecado. Mas, amar, dependendo de quem fosse, poderia ser pecado, também. Era pecado pensar nas contradições da Igreja que estavam inclusive nas falas do padre: – Eu tenho certeza, mamãe. Ele disse: ‘Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz’, e depois, no mesmo dia, sem nem demorar muito, ele ordenou ao cordeiro de Deus: ‘dai-nos a paz!’. Não foi a senhora quem me falou que era feio dar e depois pedir de volta?
Mas não adiantava. Quando não eram as contradições, eram as besteiras. Eu até ia muito bem, mas bastava que a banda tocasse “Meu coração é para ti, Senhor!”, que eu, que não tinha carro nem nada e que no máximo passeava na Belina de Tia Helena, me danava a pensar na Parati, aquele carro bonito da mãe da Bruninha. E “Meu coração é PARATI, Senhor!” me fazia novamente pensar que aquilo era pecado.
Talvez fosse.
O fato era que desde ali eu percebia o quanto a religião, que deveria ser assunto de caráter privado, nos dividia e interferia em nossa vida em coletividade, impondo regras, medos, tabus. Optei por não querer. Hoje tenho a ideia de um Cristo em quem acredito, leio sobre santos, santas, deuses e deusas e tenho uma concepção de espiritualidade que não me impede de ver a realidade de forma científica e que, principalmente, me permite arrancar dos conflitos de outrora boas oportunidades para o riso. Me faz sentir bem.
Eu só queria brincar, juro. Mas os danados dos meus coleguinhas tinham mesmo umas manias bestas para escolher divertimento, de modo que, se nas noites anteriores preferiram assistir às Chiquititas a brincar de rouba bandeira, naquele dia simplesmente decidiram que deveríamos fazer parte do grupo de adultos que se animavam em frente à casa do Juninho.
Acontecia que, de tempos em tempos, os pais do Juninho organizavam lá na rua atividades da igreja da qual faziam parte. Até que as coisas eram animadas, reconheço: tinha música, cantos, palmas, histórias e às vezes até lanche! Mas confesso que quanto mais perto chegava do fim, mais alegre eu ficava, porque então poderia correr, gritar, brincar de roubar e fazer o que mais desse em minha cuca de lelé.
Ledo engano.
Ao final, todas as pessoas que haviam participado daquele ritual pela primeira vez, inclusive nós, pobres e indefesas crianças, fomos convidados a ir à frente e responder, um a um, ao questionamento que encerraria aquela noite: – Você aceita Jesus? – Meu Deus do céu, como poderia eu ou qualquer outra pessoa recusar Jesus ali diante de todos aqueles olhos? – Sim...
Aquele episódio dava início a uma longa madrugada em claro. Era verdadeiramente um drama, porque eu era consciente que o que eu dissera não fora ao meu amigo Jesus, mas sim àquela igreja que, por sinal, não era a mesma Católica Apostólica Romana que ditava as regras que serviam de base à educação e às formas de ver o mundo que minha família me impunha.
Demorei, mas superei. Ninguém nunca soube, mas a ideia do pecado simplesmente me seguia, perseguia, curtia. Se havia um lugar onde eu não poderia tossir, eu sabia que esse lugar era a igreja, porque tossir na missa era pecado, assim como era pecado falar, escrever ou pensar na palavra “bunda”, não só na igreja, mas em qualquer que fosse o lugar.
Era confuso. Praticamente tudo era pecado. Não amar era pecado. Mas, amar, dependendo de quem fosse, poderia ser pecado, também. Era pecado pensar nas contradições da Igreja que estavam inclusive nas falas do padre: – Eu tenho certeza, mamãe. Ele disse: ‘Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz’, e depois, no mesmo dia, sem nem demorar muito, ele ordenou ao cordeiro de Deus: ‘dai-nos a paz!’. Não foi a senhora quem me falou que era feio dar e depois pedir de volta?
Mas não adiantava. Quando não eram as contradições, eram as besteiras. Eu até ia muito bem, mas bastava que a banda tocasse “Meu coração é para ti, Senhor!”, que eu, que não tinha carro nem nada e que no máximo passeava na Belina de Tia Helena, me danava a pensar na Parati, aquele carro bonito da mãe da Bruninha. E “Meu coração é PARATI, Senhor!” me fazia novamente pensar que aquilo era pecado.
Talvez fosse.
O fato era que desde ali eu percebia o quanto a religião, que deveria ser assunto de caráter privado, nos dividia e interferia em nossa vida em coletividade, impondo regras, medos, tabus. Optei por não querer. Hoje tenho a ideia de um Cristo em quem acredito, leio sobre santos, santas, deuses e deusas e tenho uma concepção de espiritualidade que não me impede de ver a realidade de forma científica e que, principalmente, me permite arrancar dos conflitos de outrora boas oportunidades para o riso. Me faz sentir bem.
22 comentários:
hahahaha Ri muito desse post. Muito bom, gente. Coisas que só tu podes fazer, né? Nunca esqueço os papos sobre a timidez e o medo de puxar a cordinha do ônibus.
cheiro.
Esse texto, num domingo a noite ( me lembra missa), ouvindo Zeca Baleiro dizer aqui baixinho no meu ouvido "eu não sou cristão, eu não sou ateu.."
Gostoso demais! Beijo!
Verdade, ó. Tbm penso muitas coisas durante uma missa. Quando eu era pequena e mesmo hoje. Será se eu que não cresci? rs. Só escutar durante 1h tbm n dá, né? Nosso pensamento vai loooongeee... rs. Mas eu gosto. Me sinto bem indo e assistindo a missa. =)
Beijo!
Fico feliz que voltou a escrever. São muitas estorias pra desenrolar aqui. Bjin
Lembro das missas quando começavam com aquela musica " Deeeeusss estááá aqui aleluuuia tão tão perto com o ar que eeeeu respiro...tão perto como o AVIÃO (amanhã) QUE SE LEVANTA..." sempre me perguntei sobre o avião...hahahha
AUSHUHASUHASUHASU
meu coração é PARATI, senhor?
AUSUASUUASHUASHUH
tu me mata de rir, camilina.
Que texto legal Camilinha, acho que muitos de nós já passou por esse momento de se culpar pelos pecados que acreditava estar cometendo... o bom é que hoje temos um outro olhar até mesmo para o nosso amigo Jesus. beijos
Aeewww adoreei!! \o/ minha primeira participação especial hahaha!! menina agora o episódio dessa musica que nao sai da minha cabeça, foi aquela missa no pátio do Aprovação... qndo tocou essa musica me deu um ataque de riso tao grande!!! tu te lembra?? huahsuahuahsau adoroooo minha parati ate hj deixa saudade ^^
bju camiliiinhaaa =D
Fui crente da Assembleia de Deus, batizado na Adventista do 7º Dia, budista na época do Karate Kid, já entrei numa igreja católica pra pedir ajuda aos santos quando eu tava desempregado e fodio, passei pela bruxaria, toquei tambor em terreiro de umbanda e hoje sou um poeta com fama de cafajeste.
Rapaz... Só tu mesmo menina pra me fazer lembrar de coisas desse tipo. Lembro de quando fiz a primeira cominião(hoje chamada de primeira eucaristia), lembro que fiquei com vergonha de me confessar com o padre e depois que eu saí da sala dele, fiquei me perguntando se Deus iria me perdoar por não ter feito o que a "tia Socorro" tanto pedia quando falava para não escondermos nada do padre.kkkkkkkk Morro de rir até hoje quando lembro disso.rsrsrs E lembro também que mamãe sempre diz que a oração é coisa sagrada,lembro daquele natal na casa de Tia Franciliz que tio Alvio,no meio da oração que tio Zequinha estava fazendo,acertou em cheio o dente de Helídia com um caroço de azeitona.rsrsr Meu Deus,quanto pecado!!!rsrsrs
Camilinha, quase morri de rir com esse texto. Muito legal mesmo. E pra completar, Carol ainda lembra do episídio do caroço de azeitona...kkkk... Coisas da vida... Bjos da titia...
essa hst de bunda me lembrou o seguinte causo: quando pequena uma tia do meu namorado entrou na roda de oração dentro da casa da vizinha, levantou a saia, tirou a calcinha e gritou "bunda! buuunda, buuuuuudaaaa!" loucamente. não é uma cena libertadora?
eita, mas tu faz uma falta!
hoje em dia eu sigo independente da igreja por conta de tantos outros questionamentos mais ou menos parecidos com os teus. pecado ou permitido? e o permitido virando pecado? como assim?
texto ótimo! a reflexão é necessária para todos nós. espiritualidade independe de igreja. Deus, Jah, Alá, Zeus, não importa quem está no comando, mas acredito que ele tem boas intenções...
beijos e abraços!
=]
"Meu coração é PARATI, Senhor!"
ótima sacada!, ri pra caramba; não deixei de pensar em parati (cachaça), conforme a gente lê nos romances naturalistas.
Beijos!
Vinícius
Camilinha você me fez lembrar de um episódio que aconteceu quando eu ainda não era evangélica, tudo aconteceu no baby chá do Otavinho,uma festa evangélica e no momento da oração meu celular chama com o toque de Ivete "berimbau metalizado", todos os irmãos com olhos arregalados, e eu desesperada tentando encontrar o celular na bolsa para desligar, pensa na vergonhakkkkkkkkkkkk
shuashuashuashuashuashua
Muito engraçado o texto c...mila. Papai(Alvino) tem essas manias mesmo, o comentário de Carol me fez lembrar de uma cena que ocorreu no domingo passado. Mamãe ia tomar café quando papai passou por perto, ela ouviu um som estranho mais ou menos um "pluf" saindo do café , ficou meio desconfiada e foi derramar o café na pia, quando olhou pro fundo da xícara tinha um caroço de murici todo ruido olhando pra ela.
-Papai é perigoso ataca quando se menos espera e suas principais armas são os caroços e sementes.
kkkkkkkkk, bjão camila!!
A religião perdeu a função de outrora, ainda sim permanece com o mesmo modus operandi. Fica inevitável esse choque quando se dispõe da ciência e das inúmeras versões do cristianismo, dentre outras crenças, para guiar sua espiritualidade. Sim, acredito que na ciência também podemos desenvolver nossa relação com o transcendental.
Nem entendo muito disso. até viver alegre era pecado^^.
abraço.
Conspiração
Eu comigo contra todos
Contigo contra o mundo
Com o mundo contra Deus:
sozinho contra mim.
Ia começar o comentário achando que seria a única a selecionar o “Meu coração é PARATI, Senhor!” e dizer que morri de rir. Mas vendo os outros a coisa fica meio perdida e pouco original. :P
Eu tinha algo no "Hosana". Sempre achei que fosse o nome de uma mulher. Mulher essa que nunca era comentada na Bíblia. Achava muito bizarro.
Hahaha muito bons todos os comentários e, só para completar, Hosana, Fernanda, foi um nome de uma menina que estudou em minha escola.
E esse era só mais um entre mil outros motivos para eu não conseguir me concentrar na missa. Vale dizer que, depois do 11 de setembro, eu já não pensava mais em Hosana, mas em Obama.
Era o fim.
É por isso que eu digo: quando o espírito de Deus se move em mim, sacudo como o rei Davi. Sacudo, sacudo, sacudo como o rei Davi"
Haha pq siim o PARATI foi o melhor!! hahahaha..sei como é esse negocio de aceitar Jesus.O negocio fica tenso quando levantam tua mao e de repente todo mundo olha pra ti, nao da pra dizer não pra Jesus...
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