domingo, 27 de junho de 2010

Castigos para os que virão

Velhos tempos eram aqueles ao sabor da pimenta malagueta que temperava a boca depois de um pedaço de palavrão, porque escutas biônicas e leitores de pensamentos são itens de série que historicamente acompanham as mães desde suas saídas das maternidades.

Naquela época, ficar sozinho no quarto, não assistir televisão ou ter que abraçar alguém com quem havíamos acabado de brigar, eram as mais severas entre todas as punições, porque implicavam em não poder brincar na rua ou perder os episódios inéditos daquele desenho preferido.

Hoje as necessidades mudaram e aquilo que era castigo já não mais é. As crianças já compram salgadinhos ou mesmo chicletes com sabor de pimenta e tortura é ter que assistir televisão ou não dispor de um espaço onde se possa ficar sozinho para exercer o direito à privacidade.

Os tempos são mesmo outros, e uma vez que bater não educa e que conversar nem sempre basta, daqui para frente já podemos pensar em termos de castigos para aqueles que ainda virão. E foi exatamente isto o que Seane Melo e eu nos pusemos a fazer e, dentre tantas ideias, seguem algumas:

Mãe
Menina(o), vá para a rua brincar com os meninos, essa semana tu estás de castigo, nada de Twitter, Orkut ou Facebook.


Filha(o)
E os meus amigos?


Mãe
Ora! É por conta dessa tua mau criação que passada esta semana tu terás somente 1600 caracteres para escrever recados. E se quiseres!


Filha(o)
Mas isso não dá nem pra...


Mãe
Mas, sem mais! Vou desinstalar esse emulador do PC, se quiseres jogar vais ter que usar o Playstation!


Filha(o)
Não, mamãe, Playstation, não!
Prometo que me comporto.

domingo, 20 de junho de 2010

Vazio literário

Vai, cão das lágrimas, passeia por aí feito aquele Caim, fareja e traz aqui a paixão pela literatura que vi se revelar a cada virar de páginas, o bocado gostoso de ironias que germinam do ritmo de escrita só encontrado naqueles textos pontuados de forma tão peculiar, e a crítica política ao sistema econômico, à propriedade privada, à religião e aos valores humanos que só levam estes mesmos humanos a uma cegueira absurda que não lhes permite enxergar nem mesmo a si.

Guia, cão das lágrimas, e traz de volta aqueles que mais que personagens são identidades, que carregam consigo predicados e uma infinidade de defeitos, porque afinal, toda esta dicotomia habita mesmo em nós. Só não te esqueças, meu querido cão, de secar as gotas salgadas que brotaram desta imensa sensação de vazio, porque felizes são aqueles que subvertem a confortável certeza de uma História após a morte e trabalham em vida pois compreendem que sua continuação se faz no outro.

*Em memória do meu escritor preferido, o José Saramago.

domingo, 13 de junho de 2010

O tempo de uma paixão

Quando Mauro Luís Iasi contou sobre a vontade de ser eterna que toda paixão carrega consigo, falou da cegueira e da loucura que tomam os amantes que se põem a desafiar, com qualquer embarcação ou nenhuma orientação, os mares mais insensatos e furiosos, e da relação declarada de guerra que este sentimento tem com o tempo.

O tempo, “que vive entre os números do relógio prisioneiro”, é também o responsável pela ilusão e desorientação dos amantes que temem e sofrem por pensar que este seja, assim como penso, um verdadeiro faminto e devorador de grandes paixões. E é exatamente por medo desse passar, consumir, digerir, que aqueles que vivem uma paixão se atiram insanos, antecipando-se ao fim.

Acontece que a paixão ou outros sentimentos tão avassaladores quanto, não são regidos por mágica como as pessoas gostariam que fossem, e têm, na ciência, uma série de explicações, dentre elas, aquela que diz que estes costumam durar no máximo quatro anos ou o tempo até que apareça outro alguém que faça despertar um sentimento ainda maior.

É a partir daí que penso sobre a quantidade de tempo desperdiçada ou o quanto do melhor de uma paixão deixamos de viver cotidianamente, seja por medo, por muito avaliar ou simplesmente por esperar que chegue um momento que, com o passar do tempo, só tende a se afastar ainda mais. E deste modo, deixamos que passem as paixões, os amores, a vida.

E foi assim que diante dos últimos acontecimentos comecei a entender como algumas paixões têm passado por pessoas próximas e principalmente por mim. Estas, se não são vividas em seu momento exato, se não recebem quem se atire nelas de imediato, correm o risco de não mais acontecerem. E então, tem-se carinho, amizade, amor platônico ou qualquer outra coisa, menos paixão.

Porque o tempo já terá devorado as maiores vontades.

domingo, 6 de junho de 2010

A mais esfarrapada

Tudo bem se tu dizes que vai à padaria comprar cigarro e só volta quinze anos depois. Eu não me importo. Agora vires tu dizer que pegou um resfriado e que por isso saiu para tomar uma caipirinha e comer uma pizza para ver se melhorava, não! Essa não! Essa foi o fim!

*Texto baseado na mais esfarrapada entre todas as desculpas contadas por Bia Deruiz.

 
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