E não havia mais como pagar as tantas contas que de tanto chegar já sobravam na gaveta da cômoda que ocupava o canto daquele quarto tão pequeno. Em toda a cidade, a crise não se fazia esconder de um par de olhos sequer e a prova disto estava nos tantos barracos feitos de madeira e papelão que serviam de abrigos a famílias inteiras.
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O que talvez ninguém conseguia imaginar era que havia um casal que, mesmo tão preocupado e sofrido por conta da crise, conseguia tirar de bem pouco, momentos de grande felicidade. E sob o céu de estrelas que para muitos servia de teto, todas as noites eles brincavam de ser ricos.
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Em papel, Charles desenhou notas de mentira para que ele e sua esposa pudessem brincar de comprar e vender propriedades e se arriscar no mercado imobiliário norte-americano. Compravam ruas, avenidas, bairros inteiros. Construíam casas e hotéis e viravam os verdadeiros donos da cidade!
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E foi assim, brincando de ser feliz, com notas de mentira e uma toalha de mesa xadrez, que Charles Darrow, um desempregado vendedor de sistemas de aquecimento, falido após a quebra da bolsa de 1929, criou um dos mais populares jogos de tabuleiro, o Banco Imobiliário.
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Um dia desses, um amigo militante reclamava em tom choroso a falta de sorte no jogo. “Descobri que não dou certo para burguês”. Disse-me ele. “Nem eu”. Respondi quase que sem pensar. Ele me contava que havia acabado de falir em uma partida de Banco Imobiliário após ter assistido, literalmente sentado, ao verdadeiro monopólio construído por sua mãe.
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Passada a empolgação e toda a lerdeza de minha conexão discada, começamos a conversar. Por conta de uma série de ideologias, quase tropeço nas teclas para lhe confessar que gostava daquele jogo tão capitalista. Foi então que descobri que a partir de sua angústia, havia eu encontrado explicações revolucionárias para o feito!
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Chegamos à conclusão que independentemente da sorte no amor, para se dar bem no jogo nessas circunstâncias, é preciso fazer como Charles e Ester, só que de forma ideologicamente contrária. Nos colocamos então a imaginar uma realidade diferente daquela que está posta.
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Nessa nova realidade, agora vermelha e bem mais popular, os terrenos comprados servirão para fazer a reforma agrária e construir casas populares, já as empresas e companhias serão todas estatizadas. Ocuparemos fábricas, rádios e canais de televisão. Enfrentaremos a polícia e derrubaremos os ditadores.
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Será um jogo todo jogado de forma coletiva, como as “sociedades” que já ouvi outra amiga (também viciada na prática), comentar, “só que de forma ideologicamente contrária”. Sendo assim, se antes o alvo era monopolizar, de agora em diante, o objetivo é fazer a revolução. Pregaremos o desenvolvimento de uma comunidade pautada no socialismo e a cada casa avançada, a cada conquista, ganha-se militantes.
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Convertemos o jogo para a lógica da luta. Nos momentos de interação dos encontros estudantis ou no intervalo das aulas das escolas, as cartas de Uno dariam lugar ao novo entretenimento. Mas, também, não sejamos tão otimistas, nunca se sabe. Pode haver pessoas jogando o nosso jogo “só que de forma ideologicamente contrária”. E aí, o que faremos?
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Ah, mas eles podem, também. Aprendi, com essa história toda, que todo mundo tem o direito de ser feliz, ou pelo menos brincar de ser. Um dia desses, eu fiquei apenas com uma nota de “1 dinheiro”. Todos os meus amigos de 19 anos, ou menos que isso, sorriam de mim. Mas, não me deixei abater e aprendi que em Banco Imobiliário, quando não se tem dinheiro, a melhor saída é ir para a cadeia.
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E foi assim que dei a volta por cima e fiquei rica. Foi assim que ganhei dinheiro na prisão. Fiquei respeitadíssima na mesa, e não mais por conta dos meus vinte e um anos. Não que eu tenha sido respeitada alguma vez por conta disso, mas esta parte prefiro não comentar. Finalizarei apenas a dizer que foi um verdadeiro sucesso! E então, alguém aceita, gentilmente, o convite para uma partida?
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O que talvez ninguém conseguia imaginar era que havia um casal que, mesmo tão preocupado e sofrido por conta da crise, conseguia tirar de bem pouco, momentos de grande felicidade. E sob o céu de estrelas que para muitos servia de teto, todas as noites eles brincavam de ser ricos.
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Em papel, Charles desenhou notas de mentira para que ele e sua esposa pudessem brincar de comprar e vender propriedades e se arriscar no mercado imobiliário norte-americano. Compravam ruas, avenidas, bairros inteiros. Construíam casas e hotéis e viravam os verdadeiros donos da cidade!
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E foi assim, brincando de ser feliz, com notas de mentira e uma toalha de mesa xadrez, que Charles Darrow, um desempregado vendedor de sistemas de aquecimento, falido após a quebra da bolsa de 1929, criou um dos mais populares jogos de tabuleiro, o Banco Imobiliário.
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Um dia desses, um amigo militante reclamava em tom choroso a falta de sorte no jogo. “Descobri que não dou certo para burguês”. Disse-me ele. “Nem eu”. Respondi quase que sem pensar. Ele me contava que havia acabado de falir em uma partida de Banco Imobiliário após ter assistido, literalmente sentado, ao verdadeiro monopólio construído por sua mãe.
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Passada a empolgação e toda a lerdeza de minha conexão discada, começamos a conversar. Por conta de uma série de ideologias, quase tropeço nas teclas para lhe confessar que gostava daquele jogo tão capitalista. Foi então que descobri que a partir de sua angústia, havia eu encontrado explicações revolucionárias para o feito!
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Chegamos à conclusão que independentemente da sorte no amor, para se dar bem no jogo nessas circunstâncias, é preciso fazer como Charles e Ester, só que de forma ideologicamente contrária. Nos colocamos então a imaginar uma realidade diferente daquela que está posta.
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Nessa nova realidade, agora vermelha e bem mais popular, os terrenos comprados servirão para fazer a reforma agrária e construir casas populares, já as empresas e companhias serão todas estatizadas. Ocuparemos fábricas, rádios e canais de televisão. Enfrentaremos a polícia e derrubaremos os ditadores.
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Será um jogo todo jogado de forma coletiva, como as “sociedades” que já ouvi outra amiga (também viciada na prática), comentar, “só que de forma ideologicamente contrária”. Sendo assim, se antes o alvo era monopolizar, de agora em diante, o objetivo é fazer a revolução. Pregaremos o desenvolvimento de uma comunidade pautada no socialismo e a cada casa avançada, a cada conquista, ganha-se militantes.
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Convertemos o jogo para a lógica da luta. Nos momentos de interação dos encontros estudantis ou no intervalo das aulas das escolas, as cartas de Uno dariam lugar ao novo entretenimento. Mas, também, não sejamos tão otimistas, nunca se sabe. Pode haver pessoas jogando o nosso jogo “só que de forma ideologicamente contrária”. E aí, o que faremos?
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Ah, mas eles podem, também. Aprendi, com essa história toda, que todo mundo tem o direito de ser feliz, ou pelo menos brincar de ser. Um dia desses, eu fiquei apenas com uma nota de “1 dinheiro”. Todos os meus amigos de 19 anos, ou menos que isso, sorriam de mim. Mas, não me deixei abater e aprendi que em Banco Imobiliário, quando não se tem dinheiro, a melhor saída é ir para a cadeia.
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E foi assim que dei a volta por cima e fiquei rica. Foi assim que ganhei dinheiro na prisão. Fiquei respeitadíssima na mesa, e não mais por conta dos meus vinte e um anos. Não que eu tenha sido respeitada alguma vez por conta disso, mas esta parte prefiro não comentar. Finalizarei apenas a dizer que foi um verdadeiro sucesso! E então, alguém aceita, gentilmente, o convite para uma partida?
9 comentários:
Eu aceito! Nunca joguei banco imobiliario acredita?
rsrsrsrsrs
Eu, uma das amigas de 19 anos que riu...e faliu!
hsauahsuahsuahsuhs...
Faz parte do jogo da vida,ops jogo da vida? Confundi. Banco Imobiliario!
:]
ai camilita, larga mão das ideologias fechadas e joga!
esse discurso de "isso pode corromper brincando" é bem parecido c aquelas opinioes senso-comum de q TV nao presta pq ensina violencia etc e tal... as mídias são do cão!
Tudo está impregnado de valores, desde a nossa infância, é verdade, e não tem outro jeito de ser pq precisamos de referências p se mover no mundo.
E banco imobiliário é massa! massa tb é assassino e detetive ó... ah e eu gosto de "atirei o pau no gato" desde sempre, mas taí, nunca meu deu uma vontadezinha sequer de jogar um pau num gatinho fofinho. eu corro p beijar e fico cheia de pêlo na boca, parece até buço!
kkkkkkk!
eu!!! eu!!! rs
qndo ao seu comentário:
kkk
não tenho culpa...foi meu primo que me mandou akele bilhete... eu não tow sabendo do seminário...onde vai ser?
mas de qualquer forma não dá pra eu ir. por causa do trampo...tô virando jornalista. sabia que já apresentei minha monografia??? pois é tirei 10! rsrs mas agora é que seremos mesmo colegas de curso, pq tow começando hj o curso de relações públicas. deus me ajude que eu termine! rsrsr
Xêru!!!
=D
o consolo de ser o desafortunado jogador é ser o homenageado da semana. Ver minha desgraça inspirar pontinhas de dedos a digitar teclas.
Depois de ser o soberbo proprietário de um hotel no Morumbi (nada é tão caro no Banco Imobiliário) caí a desgraça, incapacitado de pagar minhas várias hipotecas...
mas o falido investidor se volta contra o próprio sistem que lhe deu prosperidade e decadência e pensa uma transformação nos valores.
Me comprometi com a Camilinha, na mesma noite em que lamentava meu desgosto, que criaria as regras do novo jogo-manifesto e até a madrugada, esboçaria o novo tabuleiro.
Ainda hoje não cumpri... mas a luta continua!!
Fiquei imaginando como seria o tabuleiro do 'novo' banco imobiliário. Apesar de não acreditar na 'falência' (prevista por Marx) do capitalismo, fiquei muito animado com essa idéia para um jogo.
Bom texto, parabéns.
Lembrei que em 2001 um amigo da minha rua apareceu com um Banco Imobiliário da estrela todo novinho que ele havia pego emprestado de um primo. Logo juntou uma turma pra jogar e durante uns três dias nos reunimos pra "brincar de burguês"...quando o empréstimo acabou, bateu uma crise de abstinência, que foi resolvida quando ocasionalmente descobri um genérico no Mundo do Um real da CO. Ele era bem tosco (também, por esse preço né?) por isso só aproveitamos dele as notinhas (compramos quatro pra ter mais diheiro rs), que eram bem parecidas com as de verdade, e fizemos uma adapação das propriedades. Um apartamento na Avenida dos Holandeses com vista para o mar era um nota!
Então é isso aí! Apoio essa adaptação, já que não existe um Banco Imobiliário socialmente justo... Quem não tem cão, faz um gato latir! rsrs
www.noitesequintais.blogspot.com
Rapaz... Essa coisa de "Banco Imobiliário" é uma onda muito louca. Nunca esqueço de quando eramos pequenas e iamos pra casa de tia Helena e via todo mundo passava HORAS jogando aqueles dois dadinhos em cima de um tabuleiro quadrado e sempre ouvia Elane dizer pra ti Camila:"Rapaz, tu tá me roubando com o preço desse aluguel..." E todos caiam na gargalhada. E quando eu finalmente tive idade suficiente pra aprender jogar esse jogo, pronto, agora não quero mais saber de outra coisa a não ser jogar, jogar e jogar.rsrsrrs
huahuahuahuahua que comentário do tempo do ronca, carol! huahuahuahuahua lembro-me bem disso! elane roubava adoidada e ainda punha minha confiança em prova!
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