Por estes dias, deixei as cores do meu zine para me dedicar a outras cores. Foram fogueiras, estrelas e bandeirinhas todas coloridas em diversos tons. Vermelho, amarelo, cor de laranja, verde e azul entre tantas outras tonalidades misturavam-se, de forma única, a outros muitos sentidos.
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Eu, ser nostálgico que sou, não poderia me furtar da sensação que é poder compartilhar boas lembranças de minha não tão velha infância. Paro então e recordo que há mais ou menos quinze anos, o nordeste recepcionava minha família e eu desta forma tão alegre, carinhosa e acolhedora que chego a suspeitar que, de forma igual, não seja em nenhum outro lugar.
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Não havia quem nas bandas de cá chegasse e não desse um pulinho que fosse no famoso Ceprama. Foi lá que descobri que, algumas vezes, quando não estão sozinhas, as cores podem ser bem mais marcantes. Percebi que em meio aquela aquarela havia uma infinidade de sons: orquestras, matracas e pandeirões traziam alegria aos ouvidos e aos pelos do corpo, muita vibração.
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Do corpo é despertada também a fome e daí, a vontade é de comer todas aquelas comidinhas boas que nunca entendi porque só aparecem nessa época. Não sei se é uma espécie de máfia montada pelas danadas das quitandeiras, que resolvem dar sumiço à gostosuras como canjica ou mingau de milho, bolo de tapioca ou de macaxeira. Um dia ainda desvendo esse mistério.
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Como quando se chega perto de quem se gosta e se respira bem fundo, o cheiro que se sente agora é de bombinha, de chuveirinho, de rojão. E é criança gritando, e é menino correndo e é poeira subindo, porque arraial que era arraial, pelo menos naquela época, tinha que ter poeira. Nem que fosse das pedrinhas britas feitas especialmente para estalar as tais bombas de estalinho.
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Quanto às crianças, tudo era muito bem pensado nas festas de São João. Quando tem boi se apresentando, as crianças sentam bem na frente, na beirada da roda, e se encantam com a habilidade dos vaqueiros ou ar misterioso que só os cazumbas têm. Nunca entendi como é que uma criatura tão feia conseguia de mim retirar, ao mesmo tempo, medo, graça e encantamento.
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E quando a apresentação terminava, ao palco subia um animador para comandar, lá do alto, as brincadeiras infantis. E foi assim que eu, uma tradicional canceriana, a menina tímida que em outra ocasião quase morrera afogada em uma bóia levada pela correnteza, por vergonha de pedir socorro, me vi em cima de um palco a cantarolar para uma multidão.
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“Eu vou dar uma revistinha da turma da Mônica para a criança que vier até o palco e cantar uma música do Boizinho Barrica! Quem vai ser a criança?”, dizia e repetia o animador com uma empolgação que talvez somente ele mesmo tivesse. Como eu fui parar lá, realmente não sei. O que sei é que até hoje me recordo daquela vozzinha pequena que tomava conta do arraial ao dizer “lua lua cheia / que bate no meio das águas / que brilha na ponta d’áreia!”.
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Eu, ser nostálgico que sou, não poderia me furtar da sensação que é poder compartilhar boas lembranças de minha não tão velha infância. Paro então e recordo que há mais ou menos quinze anos, o nordeste recepcionava minha família e eu desta forma tão alegre, carinhosa e acolhedora que chego a suspeitar que, de forma igual, não seja em nenhum outro lugar.
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Não havia quem nas bandas de cá chegasse e não desse um pulinho que fosse no famoso Ceprama. Foi lá que descobri que, algumas vezes, quando não estão sozinhas, as cores podem ser bem mais marcantes. Percebi que em meio aquela aquarela havia uma infinidade de sons: orquestras, matracas e pandeirões traziam alegria aos ouvidos e aos pelos do corpo, muita vibração.
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Do corpo é despertada também a fome e daí, a vontade é de comer todas aquelas comidinhas boas que nunca entendi porque só aparecem nessa época. Não sei se é uma espécie de máfia montada pelas danadas das quitandeiras, que resolvem dar sumiço à gostosuras como canjica ou mingau de milho, bolo de tapioca ou de macaxeira. Um dia ainda desvendo esse mistério.
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Como quando se chega perto de quem se gosta e se respira bem fundo, o cheiro que se sente agora é de bombinha, de chuveirinho, de rojão. E é criança gritando, e é menino correndo e é poeira subindo, porque arraial que era arraial, pelo menos naquela época, tinha que ter poeira. Nem que fosse das pedrinhas britas feitas especialmente para estalar as tais bombas de estalinho.
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Quanto às crianças, tudo era muito bem pensado nas festas de São João. Quando tem boi se apresentando, as crianças sentam bem na frente, na beirada da roda, e se encantam com a habilidade dos vaqueiros ou ar misterioso que só os cazumbas têm. Nunca entendi como é que uma criatura tão feia conseguia de mim retirar, ao mesmo tempo, medo, graça e encantamento.
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E quando a apresentação terminava, ao palco subia um animador para comandar, lá do alto, as brincadeiras infantis. E foi assim que eu, uma tradicional canceriana, a menina tímida que em outra ocasião quase morrera afogada em uma bóia levada pela correnteza, por vergonha de pedir socorro, me vi em cima de um palco a cantarolar para uma multidão.
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“Eu vou dar uma revistinha da turma da Mônica para a criança que vier até o palco e cantar uma música do Boizinho Barrica! Quem vai ser a criança?”, dizia e repetia o animador com uma empolgação que talvez somente ele mesmo tivesse. Como eu fui parar lá, realmente não sei. O que sei é que até hoje me recordo daquela vozzinha pequena que tomava conta do arraial ao dizer “lua lua cheia / que bate no meio das águas / que brilha na ponta d’áreia!”.
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Foi um sucesso! Foi minha primeira exibição em público e foi também minha primeira revistinha. Eu a li e reli tantas vezes que nem mesmo ousaria arriscar quantas foram. É surpreendente tentar entender como todos os anos essa mistura de cores, sons, gostos e sentimentos me fazem reviver as mesmas lembranças que aquela menina mufina e de voz tão pequena me fizeram descobrir. Não que hoje eu fale grosso, mas isso já é assunto para uma outra história...
Foi um sucesso! Foi minha primeira exibição em público e foi também minha primeira revistinha. Eu a li e reli tantas vezes que nem mesmo ousaria arriscar quantas foram. É surpreendente tentar entender como todos os anos essa mistura de cores, sons, gostos e sentimentos me fazem reviver as mesmas lembranças que aquela menina mufina e de voz tão pequena me fizeram descobrir. Não que hoje eu fale grosso, mas isso já é assunto para uma outra história...
17 comentários:
Camilinha, sua infância nunca vai se esgotar não? Toda hora você vem com mais uma história do baú pra nos contar... =D
agora você vem nos dizer que já teve seus 15 minutos de pop star...
"a menina tímida que em outra ocasião quase morrera afogada em uma bóia levada pela correnteza por vergonha de pedir socorro"
caramba... isso sim é que seria morrer de vergonha
Seu post me fez fazer um viagem pelas festas juninas da minha infância! Que delícia!
Tb queria saber porque essas comidas maravilhosas, só aparecem nessa época!
Quinta feira faremos uma festa junina no meu trabalho, dentro da sala, já tá tudo decorado, só não vai poder acender fogueira... ahaha... E eu serei a noiva, como sempre, a palhaça de todas as festas! eheheh
Beijos
nhaaaaaaaa...
Que coisa mais fofa, Camilinha! Eu nunca imaginei que tu tivesse cantado em um arraial e muito menos ganhado uma revistinha.
Cara, se juntar os teus posts dá pra fazer pelo menos um esboço da tua biografia. xD
Ah, e eu sempre gosto de dizer que os cazumbás da minha época eram muuuuito grandes! Acho que eles usavam perna de pau.
Me lembrei dos arraiais da escola onde eu dançava pula pogueira...Camilinha você sempre fofa!
Beijos
Deliciosa história com o sabor das lembranças que seguem conosco por toda nossa trajetória. Me vi desenhando visualmente o teu relato, o que é para mim o sinal claro de que me fiz viajar através do texto de alguém.
E também adoro festas de São João, especialmente os legítimos folguedos nordestinos.
bjs. Veronica
hahahaha suspeito que minha infância ainda deva durar outros tantos anos...
ah... ainda tinha muita coisa pra falar. nem falei de pular fogueira. e nem da tamanha desilusão que tive em ver que aquele bumbum imenso dos cazumbas não era verdadeiro.
hahahaha pernas-de-pau? cara... mas eles eram mesmo imeeensos. aliás, quando se é criança, tudo é imenso. é interessante visitar uma praça ou um parquinho antigo depois de grande. já repararam? rs.
Ah, que bom que tu gostou! Tu sabe que um elogio teu significa muita coisa, né? =*
olha só, vim lhe desejar feliz aniversário e quem ganha presente sou eu com um texto tão belo e delicioso!!!!
lindo de mais!
hein, espero te dar um bom abraço la no rio de janeiro!
saudade menina!
eu realmente como desesperadamente em festas juninas!!!
Olá ,
Estou de volta... Tive um problema no meu PC.
Aguardo uam visita sua no meu blog.
Abraço!!!
tu nasceu numa época boa e veio parar num lugar bem propício...
e teu zine ficou coloridão dessa vez!
^^
arraial, arraial,
eu fico triste
quando acaba
o arraial.
ehieuhuiehuie
bjos e parabéns, de novo, moça!
camila!
te mandei mendagem sabado, mas a pane na OI impossibilitou nossa comunicação ne.. pois então
parabens. que vc alcance seus objetivos, vença varias barreias, conquiste tudo atraves de suas lutas.
AH! coloquei gamar no google e oq eu vi? o terceiro link eh o do teu blog rsrsrsrs
rpzzzz camila eh global! uahauhua
=***
Tainara
São João é isso mesmo, um momento para voltarmos a infancia. Se bem que hj em dia tá tudo tão mudado, as crianças brincam tão violentamente com as bombinhas, eu sempre achei mais graça dakelas que apenas brilhavam e naum estouravam ;)
Adorei sua maneira de escrever,...parabens,...
Voltarei!
o grande problema de fazer o êxodo para o centro sul é perder coisas tipo festa de são joão, círio, brincadeiras de rua e afins...
Por falar em infância, Camila, parece que é cada vez menor o tempo que as crianças terão para lembrá-la, talvez só dentro da barriga da mãe.
As crianças brasileiras estão sendo assassinadas cada vez mais cedo, as Isabelas em São Paulo ou os Joãos no Rio, pelos soldados da burguesia.
Será que como nós terão alguma coisa para lembrar, quando não são os bandidos é a polícia bandida.
Tomara que a tua infância não se esgote jamais, é dela que vem a lembrança dos melhores sonhos e tempos da vida.
Revolução já.
beijos e saudades
As comidinhas dessas época são realmente as melhores. E são ainda melhores quando comportilhadas com as pessoas que mais gostamos. Reviver uma infância feliz somente por voltar às origens é fantástico. Ter a sensação presente em nosso corpo, em um intenso flashback, faz maravilhas.
Pena que nem todas as crianças entendam a magia dessa época... pena que nem todas as crianças consigam viver dignamente essas maravilhas e quitutes.
E pena que nem todas as crianças tenham a coragem de enfrentar uma multidão para ganhar uma revistinha. Talvez elas sejam como você que ficou com vergonha quando estava na bóia...
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