Nem todas aquelas cores são primárias. São intensas, são riscadas, são efêmeras ou demoradas. Uma te deixa seguir, outra te desperta a atenção e outra, um vermelho vibrante, forte e por pouco não saltitante, te faz parar bem ali, no calor daquele chão. Mas quem sou eu para falar de sinais?
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Talvez eu seja o menino que cheira cola para passar a fome, a vendedora de água com sede ao sol ou o malabarista que joga ao alto suas claves enquanto se equilibra em um monociclo e dos carros tenta roubar alguns segundos da atenção. Talvez eu tenha fome, talvez eu tenha sede, talvez eu brinque de equilibrar coisas no ar. Talvez eu seja todos eles ou quem sabe, nenhum.
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Talvez eu seja o menino que cheira cola para passar a fome, a vendedora de água com sede ao sol ou o malabarista que joga ao alto suas claves enquanto se equilibra em um monociclo e dos carros tenta roubar alguns segundos da atenção. Talvez eu tenha fome, talvez eu tenha sede, talvez eu brinque de equilibrar coisas no ar. Talvez eu seja todos eles ou quem sabe, nenhum.
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Já usei os sinais para falar de diversidade, de velocidade, de cores, mas o mais interessante é a concepção que cada um tem sobre este símbolo. Para a maioria das pessoas, afirmar que "os sinais estão fechados" significa algo negativo, um impedimento. Isto se evidencia nas letras de Elis Regina em "os sinais estão fechados para nós que somos jovens" ou nas de Adriana Calcanhoto em "cariocas não gostam de sinais fechados”.
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Mas, embora eu tenha algo muito próximo de paixão pelos trabalhos das duas cantoras, sou muito mais adepta da idéia totalmente oposta daquele que é, para mim, o maior e verdadeiro ídolo, o Zeca Baleiro. Quando ouço “os sinais estão fechados” em meio a suas palavras aquareladas, entendo o ir de encontro ao que propõe a palavra “fechado”, bater de frente com a idéia de negativo, de impedimento, de inércia.
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Em Baladas do Asfalto, quando o Baleiro fala “os sinais estão fechados” existe algo que está para além do trocado carregado no bolso para o café, descrito no trecho que vem logo em seguida. As frases estão invertidas e pouca gente entende é que, na verdade, “os sinais estão fechados” pode dar lugar a “me dá um beijo, meu amor”.
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Pode até parecer confuso, mas seguindo esta linha de raciocínio podemos dizer que quando os sinais estão fechados, as pessoas podem se beijar, se elas se gostam e se elas não precisam mais prestar atenção ao seu redor, uma vez que “tudo parou”. Ou, como a idéia é a de subverter esta lógica, estamos falando exatamente o contrário: quando os sinais fecham e os carros param, a vida começa e o mundo segue adiante.
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É fato que tenho vivido nos sinais. Não sei como costuma ser em outras regiões, mas aqui no nordeste, os pedágios para arrecadação de dinheiro para que algumas atividades relacionadas ao movimento estudantil sejam viáveis, é uma prática cada vez mais comum. Desta vez, queremos ir ao Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação que acontecerá em Julho, no Rio de Janeiro. E a saída? Como diz o baleiro, “vou pisando o asfalto entre os automóveis”.
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Apesar do cansaço, do sol e de alguns “não”s em tons bem mau-humorados, o balanço final dos pedágios é sempre animador, uma vez que qualquer quantia é lucro. E daí que é um problema porque vira um vício e não se pode mais ver nenhuma simples fila de carros parados que já se pensa em arrecadação e mais arrecadação.
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Sem contar ainda que, por ali, acontecem coisas no mínimo interessantes, como os gritinhos finos e alucinados daquele pedacinho de gente ao ver que aquela pessoa estranha e com três bolinhas coloridas nas mãos tomava distância. Ou ainda o casal que, a princípio, não queria abaixar o vidro da janela, mas que se inundou em risos ao ver minha tentativa embaraçada de fazer uma mímica através do fumê. Isso me rendeu todas as moedas de cinco e dez centavos existentes no carro e, mais que isso, me fez ganhar o dia.
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Certamente a gente leva aquilo tudo como uma grande brincadeira, mas o fato é que esses dias têm sido interessantes para que eu passasse a admirar as pessoas que tiram daquelas luzes o seu sustento. Não as que pedem e somente pedem, porque desta prática eu discordo e esta é uma outra discussão.
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Sendo assim, ofereço este texto a estas pessoas e aos meus amigos e amigas estudantes, especialmente os daqui de São Luís, os de Teresina e os de Fortaleza que, mesmo sob o sol forte ou com os pés cheios de calos doloridos, conseguem estampar no rosto um sorriso e encarar aquilo que para muitos é uma parada, como o início. "Vamos nessa, gente? O sinal fechou!".
Já usei os sinais para falar de diversidade, de velocidade, de cores, mas o mais interessante é a concepção que cada um tem sobre este símbolo. Para a maioria das pessoas, afirmar que "os sinais estão fechados" significa algo negativo, um impedimento. Isto se evidencia nas letras de Elis Regina em "os sinais estão fechados para nós que somos jovens" ou nas de Adriana Calcanhoto em "cariocas não gostam de sinais fechados”.
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Mas, embora eu tenha algo muito próximo de paixão pelos trabalhos das duas cantoras, sou muito mais adepta da idéia totalmente oposta daquele que é, para mim, o maior e verdadeiro ídolo, o Zeca Baleiro. Quando ouço “os sinais estão fechados” em meio a suas palavras aquareladas, entendo o ir de encontro ao que propõe a palavra “fechado”, bater de frente com a idéia de negativo, de impedimento, de inércia.
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Em Baladas do Asfalto, quando o Baleiro fala “os sinais estão fechados” existe algo que está para além do trocado carregado no bolso para o café, descrito no trecho que vem logo em seguida. As frases estão invertidas e pouca gente entende é que, na verdade, “os sinais estão fechados” pode dar lugar a “me dá um beijo, meu amor”.
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Pode até parecer confuso, mas seguindo esta linha de raciocínio podemos dizer que quando os sinais estão fechados, as pessoas podem se beijar, se elas se gostam e se elas não precisam mais prestar atenção ao seu redor, uma vez que “tudo parou”. Ou, como a idéia é a de subverter esta lógica, estamos falando exatamente o contrário: quando os sinais fecham e os carros param, a vida começa e o mundo segue adiante.
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É fato que tenho vivido nos sinais. Não sei como costuma ser em outras regiões, mas aqui no nordeste, os pedágios para arrecadação de dinheiro para que algumas atividades relacionadas ao movimento estudantil sejam viáveis, é uma prática cada vez mais comum. Desta vez, queremos ir ao Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação que acontecerá em Julho, no Rio de Janeiro. E a saída? Como diz o baleiro, “vou pisando o asfalto entre os automóveis”.
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Apesar do cansaço, do sol e de alguns “não”s em tons bem mau-humorados, o balanço final dos pedágios é sempre animador, uma vez que qualquer quantia é lucro. E daí que é um problema porque vira um vício e não se pode mais ver nenhuma simples fila de carros parados que já se pensa em arrecadação e mais arrecadação.
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Sem contar ainda que, por ali, acontecem coisas no mínimo interessantes, como os gritinhos finos e alucinados daquele pedacinho de gente ao ver que aquela pessoa estranha e com três bolinhas coloridas nas mãos tomava distância. Ou ainda o casal que, a princípio, não queria abaixar o vidro da janela, mas que se inundou em risos ao ver minha tentativa embaraçada de fazer uma mímica através do fumê. Isso me rendeu todas as moedas de cinco e dez centavos existentes no carro e, mais que isso, me fez ganhar o dia.
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Certamente a gente leva aquilo tudo como uma grande brincadeira, mas o fato é que esses dias têm sido interessantes para que eu passasse a admirar as pessoas que tiram daquelas luzes o seu sustento. Não as que pedem e somente pedem, porque desta prática eu discordo e esta é uma outra discussão.
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Sendo assim, ofereço este texto a estas pessoas e aos meus amigos e amigas estudantes, especialmente os daqui de São Luís, os de Teresina e os de Fortaleza que, mesmo sob o sol forte ou com os pés cheios de calos doloridos, conseguem estampar no rosto um sorriso e encarar aquilo que para muitos é uma parada, como o início. "Vamos nessa, gente? O sinal fechou!".
18 comentários:
AuuHAuhAUHuhAUH.
É, isso aí.
Quando o sinal fecha para eles, abre para a gente. =D
E a gente se ferra, mas se diverte pra caramba.
E no final, além de muito dinheiro, tem muita história engraçada pra contar. :D
Impressionante sua capacidade de escrever sobre um fato corriqueiro e transformar aquilo numa reflexão íntima! Eu amei seu texto!
Beijos
Camila, fico comovido com tua atenção para comigo, a sua capacidade de reflexão da realidade que te envolve mas não engana,não ilude, não consome com tuas labaredas revolucionárias.
Os que tombaram nas lutas setentistas, colegas de escola e companheiros de geração, hoje no panteão dos heróis da minha memória estão orgulhosos através da minha emoção da tua doce e forte figura de menina-mulher.
Representas o que há de melhor nesse país tão belo, forte e destruído pelo capitalistas covardes, hordas de facistas que como disse Dolores Ibarruri " La Passionária " não passarão.
Talvez eu não esteja vivo para ver a libertação do Brasil, mas se tu estiveres será mais do que o bastante para que eu me sinta junto de ti e da nossa paixão, a revolução.
Querida amiga e companheira de barricadas, "barricadas fecham ruas mas abrem caminhos", original e revolucionária, vou pôr numa camiseta para apoiar teus companheiros.
Até a vitória final.
beijo "La Passionária 2008"
os sonhos não envelhecem
várias coisas:
1. o trecho de música citado como de Elis na verdade é de Belchior. Elis não foi compositora, mas somente cantora e é dona da memorável interpretação dessa música.
2. rsrsrs. Ontem escrevi um e-mail irônico para uma lista de e-mails da UFES respondendo um cara que chamava o DCE de autoritário. Disse que o semáforo quando fecha também é super-autoritário porque impede o vai-vem dos carros. E ainda disse que Brasília é um exemplo de liberdade pq quase não existe semáforos lá.
3. Já fiz pedágios algumas vezes no sinal, mas pra mim foram experiências exaustivas. O bom-humor de alguns motoristas não dava conta de me animar.
4. uahuahuahauhauhauhauha. Estou imaginando você fazendo mímicas...
5. muito bom o texto. Bem ao estilo Camilinha de conectar as coisas.
Eu quero botar meu bloco na rua também e fazer essas práticas de sinal. Posso?
Até concordo em parte com a srta. no quis respeito ao significado da expressão "os sinais estão fechados". Levando-se em consideração que fazemos parte de uma sistema que, na grande maioria das vezes, exige que lhe entreguemos todos os momentos de que dispomos em nossa breve passagem pela Terra em troca de prazeres vulgares e falsas seguranças, esta frase pode significar o momento em que então podemos nos permitir um instante mais nosso, preciosos segundos, a serem aplicados no que quisermos, desde num descanso merecido da correria do dia-a-dia, ou num simples beijo na pessoa amada. Mas o seu sentido original e anterior, que expressa algo do tipo "não lhe é permitido seguir agora na direção a que você se predispunha", por quaisquer motivos que possam originar tal impedimento, é aquele que fala mais alto em mim, geralmente. (Infelizmente, este Gato, que é hiper-ultra-mega-fã do citado Zeca, só conheço e venero seus três primeiros cd's; portanto, não conheço a música mencionada...)
Quanto à experiência de pedir ajuda financeira em sinais de trânsito, afora uma mal-sucedida empreitada de fazer embaixadas num sinal a troco de nada, por puro e simples entretenimento - fatos de uma outra vida -, nada posso comentar de concreto - a não ser dizer como admiro ainda mais a srta., por enfrentar grandioso desafio, que a muitos esmoreceria, de maneira tão bem-humorada e otimista. Para vocês (a srta. e seus companheiros), "os sinais estão fechados" deveria significar: "Oba! Hora de faturar!" - no bom sentido, claro.
Beijo, moça. Até a próxima.
errata:
*no quis: no que diz;
*só conheço(...): traduza esta passagem e as seguintes para a terceira pessoa.
belo texto, cheguei aqui por um blog de um amigo. E adorei.
marthacorreaon line. blogspot.com
Bem... Sou do sul,
mas adorei teu texto...
abraços
Fabio
Eh o fabio d novo, so pra avisar, aquele blog ta desativado... hehe
Camilovizky, o desenvolvimento do teu texto ficou sensacional. Só me orgulho (rsrsrs)
Mas então, a interpretação que damos aos sinais, cada um que seja, é o que os tornam ainda mais "significativos", assim ficou a idéia de que "os sinais estão fechados" ao invés da visão objetiva, foi além, e o que para uns é inércia, para outros é continuação.
Continuação e oportunidade.
Gosto muito do sentido que tu dás às coisas, tu és uma pessoa de sorte, ou com sorte. E quando uso este termo, refiro-me às palavras de meu padrinho/tio/ilustre professor, que sorte é quando uma pessoa está preparada para agarrar as oportunidades.
O texto me deu um otimismo a mais, já não verei os sinais fechados como costumava.
E para ti, boa sorte* nos pedágios. Espero presenciar tuas tentativas de mímica... Capaz de descer do carro e entrar nessa com você(s).
Sinal aberto pra você, ou melhor dizer fechado pra você.
Pequena gigante menina.
Siga em frente... sempre em frente... Aproveita que o sinal tá fechado.
BETOcas!
PS Um dia eu vou ao pedágio.
Zine mais colorido que esse ainda estão pra pintar.
eu sempre soube que tu anda pelo mundo prestando atenção em cores, em cheiros e em gestos.
e eu bem vi, num domingo ensolarado, esse bendito esforço...
quanto aos meninos que têm fome, a gente sabe que o lance do barato legal é divertido pra gente... só não podemos esquecer o que aquilo tudo significa...
luminoso o futuro se anuncia num outdoor, diz o zeca na canção que tu cita. com certeza esse outdoor contém as cores de um semáforo desses da vida... as cores de quem participa dele, diariamente.
beijocas, camilinha.
^^
Sou!? Serei apenas um desalinhado?
Pensador fugitivo ao agreste sonho
Uma pedra pensante no meio da ilha
Meio Homem, meio Arcanjo, um ser bisonho
Convido-te a navegares esta vaga de sentires
Bom fim de semana
Mágico beijo
Camilinha eis que achei você na imensa blogosfera, muito por acaso, até meio a contra gosto, entre um bando de gente num blog pra mim não tão interessante assim quanto o seu.É lindo o jeito seu de ver as coisas.
Beijos.
Realmente, os sinais vermelhos têm o dom de nos parar, seja para nos mostrar que existem outras pessoas querendo passar por nós, seja para trazer algumas reflexôes e abstrações de 30s ou para nos atrasar um pouco mais. Mas, o que acho mais interessante, e o que ainda não tinha parado para pensar, é que ELES NOS PARAM MESMO! Só não param o mundo, porque o mundo...
O preconceito acaba por fazer esse mundo dos sinais girar e girar, para o bem ou pra o mal mesmo.
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