sexta-feira, 25 de abril de 2008

A revolta dos cravos

Sempre gostei mais de Matemática que História. Pensando bem, não sei se sempre, mas se faço referência à minha saudosa época de estudante de Ensino Fundamental, esta primeira afirmação é muito pertinente. Fui eu quem, na 8ª série, em meus primeiros dias de aula naquela nova escola, tomada por uma falta de noção ou, quem sabe, por um excesso de sinceridade, levantei a mão quando aquele professor bonito e tão queridinho pela maioria das estudantes, perguntou se havia alguém na turma que não gostava daquela matéria que ele lecionaria.
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Enquanto meus pensamentos me traziam essas lembranças históricas e meus dedos folheavam minha agenda colorida, descobri que hoje, 25 de abril, comemora-se a Revolução dos Cravos. Parei um segundo e tentei tirar, ainda da lembrança, o que poderia ter sido esse marco. Sabia que não tinha faltado a aula, até mesmo porque eu era CDF demais para fazer isso, mas o fato é que realmente os arquivos da minha mente pareciam indicar que “a página não pode ser exibida”.
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E como imaginar, na maioria das vezes, pode ser bem mais divertido que pesquisar, coloquei-me nesse “dificílimo”, “cansativo”, “doloroso” e, por que não dizer “árduo”, exercício. Opa! Então vamos lá. Recebi uma prova, na verdade, uma folha quase toda em branco, que em seu topo diz o seguinte: “Discorra sobre a Revolução dos Cravos”. Gente, como é que alguém fala isso assim, de forma tão fria, tão direta e sem fragmentos ou figurinhas que, ao serem xerocadas, ganham tons de psicodelia? Vamos lá.
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Debaixo de uma sacada localizada na pacata Vila do Amendoim, distante cerca de 357 km da capital do monárquico país cujo nome prefiro não citar por uma questão de preservação das identidades envolvidas, o Cravo brigou com a Rosa. O fato de o Cravo ter saído ferido e sua companheira despedaçada, nem de longe é motivo para especulações que levem a crer que os dois tenham se agredido já que o casal era conhecido em campos e canteiros por pregar o combate às opressões e a resistência pacífica como forma de luta.
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O Cravo e a Rosa eram de oposição e, o que pouca gente sabe, na verdade, é que essa história toda de briga entre os dois teve início por conta daquela rainha pra-lá-de-fofoqueira que, além de ser a dona da moradia em que ficava a sacada que ficou conhecida em canções infantis do mundo inteiro, era também dona da maior rede de comunicação daquela época. Logo, muito esperta, viu naquela que era uma conversa em tom de revolta entre o casal, seguida de um desabamento, um prato cheio para o espetáculo e, conseqüentemente, grandes níveis de audiência. E parece que deu certo, pois nas floriculturas da região ouvia-se um “zumzumzum” e, acredite, não eram das abelhas.
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Imaginei algumas outras milhões de coisas, mas como pesquisar é preciso, também, acabei descobrindo por pura curiosidade que esta revolta, também conhecida como O Dia D (Democratizar, Descolonizar, Desenvolver), ocorreu em 1974 e significou o fim da ditadura de Salazar, em Portugal.
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Portugal vivia em regime ditatorial desde 1926 e, com a Revolta dos Cravos, liderada por soldados revoltosos, conseguiu por fim na censura e na polícia política que perseguia e reprimia todos aqueles que fizessem oposição ao regime, libertar presos políticos, fazer com que sindicatos pudessem atuar de forma livre e os partidos fossem legalizados e, um ano depois, em 1975, a realização das primeiras eleições livres para a Assembléia Constituinte.
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Na manhã do dia do golpe, muitas pessoas foram às ruas em solidariedade aos soldados. Uma das versões contadas é de que nesta manhã, uma florista contratada para levar cravos para a abertura de um hotel fora vista por um dos soldados que teria então pegado um dos cravos e posto em sua espingarda. A florista, distribuiu seus cravos vermelhos aos demais soldados que, rapidamente, puseram em suas espingardas, também.
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Não entendo por que nenhum professor ou professora nunca me pediram para discorrer sobre a Revolta dos Cravos, aquela que ficou conhecida como a revolução que trouxe liberdade ao povo português. Outra coisa que também não entendo, é como alguém que, de tão tímida tinha vergonha até mesmo de puxar a cordinha do ônibus em pedido de parada, pôde levantar a mão naquele primeiro dia de aula.

18 comentários:

Anônimo disse...

E aí, tu ficou quebrando pau lá com o professor?
Quando ele se afetou porque tu disse que não gostava da aula dele? =O
Tu corta muito as conversas, viu?
Eu sempre fico curiosa.

Outra coisa.
Naquele dia que eu falei que achava a tua cabeça meio doida, mas que gostava, e tu perguntou de que.. meio que fugiram as palavras.
Mas, lendo esse texto agora, eu lembrei.

Além das outras coisas que e tinha falado, eu gosto da tua cabeça doida, dessas tuas idéias enroladas, e do teu jeito de ser e estar.
Aliás, acho que é por isso que gosto tanto desse teu blog, aqui eu vejo um pouco de tudo.


(Odeio ser o primeiro, mas só porque tu pediu... =*)

elenmateus disse...

ôôô, não me lembra dessa tua historia com as cordinhas de onibus que eu choro!

camilinha chapolin também é cultura, não é só fofa e legal!

Rafaela disse...

Mesmo que o Cravo tenha saído ferido, e a rosa despedaçada, desta tão honrosa batalha... nunca se esqueça que o Cravo ficou doente e a Rosa, vendo aquela situação... pôs-se a chorar. =)

(mentira, na verdade a Rosa era uma grande filha da puta que ficou injuriada pq não conseguiu matar o Cravo apenas com alguns sopapos. O choro era de fracasso).

Leo Maia disse...

Quando me lembro das minhas épocas de colégio em Teresina, não tenho tantas boas lembranças. Cidade nova, colégio novo e eu um tímido caboquim que não falava quase nada.
Porque gostam sempre de implicar com os tão calados? E foi em 2001, oitava série, ano que me mudei pra Teresina, a primeira e única vez que ameacei alguém de uma surra. Imagina aí, eu, todo desajeitado ameacei o carinha folgado de uma surra. Depois, De tanto ele mandar o guarda costas dele vir me falar isso ou aquilo, mandei ele ir se fuder. Isso pra mim foi quase igual o teu levantar de braço, Camilinha.
Já no primeiro ano, voltei sem o cabelinho penteado de lado e com um brinco na orelha. Senti-me um revolucionário vendo a reação de surpresa dos meus colegas, apesar de continuar o mesmo tímido.
Precisei de 4 anos pra poder me soltar, mas nunca tive vergonha de puxar a cordinha do ônibus, devia ser trágico Camilinha.
Entretanto, odiava os recreios, passava ele todinho zanzando pelos corredores sozinho esperando o tempo passar, não gostava que os outros me vissem só.

Superei essa fase, mas o movimento estudantil não para de me desafiar e pedir que eu ultrapasse fronteiras.
Horas, sou um estudante do ensino superior que estuda comunicação e milita no movimento estudantil, outras me sinto o mininim sem jeito que veio lá de Pio IX e não sabe quase nada, totalmente inexperiente de atuação limitada e que nunca vai crescer.
Puts! Parece muito difícil.

Quanto a história do Cravo e a Rosa (não sei se é a teoria do agendamento entrando em prática), a Isabella sabe muito bem como é isso. Rs!

Davi Gentilli disse...

vergonha de puxar a cordinha???
kkkkkkkkkkk

vc perdia o ponto???

eu, quando era mais novinho (mais baixo) gostava de me sentar naquele banco que fica em cima da roda, pq o baixinho aqui, na época, não alcançava a cordinha, a não ser daquele lugar...

adorei quando chegaram aqueles botõezinhos, mas aí já estava crescido e já alcançava a cordinha.

gato de Schrödinger disse...

Lembranças, lembranças... Elas estão sempre aí, a nos fazer sorrir ou chorar, dependendo da lua.

Eu também sempre preferi Matemática à História, mas não se deixe levar pela idéia que aparentemente fica subtendida. História só perde por um tiquinho de nada, assim, ó! Enfim...

Também nunca vou saber porque essa informação não consta do meu cadastro escolar da memória: como assim, um evento importantíssimo na história portuguesa, nossos colonizadores - ainda que de maneira tão absurda mas, vá lá, nossos "irmãos" - não me foi passado de maneira correta? Fiquei indignado. Ainda mais porque, lendo sobre essa lenda (bom jogo de palavras, hein?), senti uma espécie de emoção assim, sei lá, meio romântica. Comoveu-me saber que a Revolta dos Cravos tem como símbolo cravos postos em espingardas. Estaria aí a origem do nome Guns'n Roses?

E a historinha imaginária prévia do cravo e da rosa ficou muito meiga. É sempre bom imaginar certas coisas por conta própria, antes de averiguar a verdadeira versão.

Beijo, moça. Até a próxima.

Alessandra Castro disse...

Cara professores parecem ter uma cabeça boua, mas a verdade é q naum. Normalmente são mesquinhos, sei lá, tenho uma teoria de que na época deles, eles eram os mais torturados nas salas. Cravo e a Rosa, devia ter usado isso no meu último post! :D

Anônimo disse...

Camilinha!!
Tu só paquerando o professor, né??
=P

M. A. Cartágenes disse...

Que engraçadinho esse post, ainda mais o final... O detalhe de você ser tímida, realmente é um detalhe, porque não me passava pela cabeça de você ser. Te vejo tão assim "pra frente"...

Paz moça... como sempre... ótimo post!

Suhelen disse...

a florista distribuiu seus cravos vermelhos aos demais soldados.
anos mais tarde, alguém aprenderia malabares com bolas coloridas.

^^

Francisco Bezerra disse...

Vinte e sete comentários em uma só postagem?! Camila, você é o Romário dos blogueiros. Romário não. Biro Biro.

Alessandra Castro disse...

Atualiza boneca! =*

Aline Mendes disse...

Eita! como é bom ver,ler e "entender" certas coisas.Fico muito feliz por vê-la tão vc.Você entende né? Lendo parece que a gente escuta tua voz infante na cantina da ufma(espaço nosso, mas cedido a "alguéns", ou esperendo ônibus (navios negreiros pós-modernos), ou olhando futuros historiadores saindo do CCH e cantarolando somente aviões do forró...eles também certamente não falarão sobre a Rev dos Cravos às pobres crianças moradoras do Sá Viana (ou mesmo moradoras de um desses conDomínios dos Jacksons que arranham não só o céu dessa nova São Luís, mas arranham tb a dignidade de quem vive sem esgoto, sem água). Que bom poder ver gente como eu (comum e sem nariz empinado, até porque teu nariz de palhaço é redondo e inteirinho, não dando espaço pra sobreposições) escrevendo coisas interessantes. Um abraço grande dessa sua colaboradora Aline que muito gosta e admira essa colabora Camila. E tu queria saber escrever crônica é? Vê se bota o colaborador óculos na cara e te enxerga rsrsrs.Que orgulho.Viu?

Cris Medeiros disse...

Viva a Revolta dos Cravos!! Seu blog é cultura, nunca tinha ouvido falar disso!

Olha, obrigada pelos seus comentários super entusiasmados! Fico feliz em saber que vc gosta tanto do meu blog!

E sobre o que vc comentou, não leio nenhum email repassado e não repasso email, não tenho a menor paciência pra isso!

Grande beijos, linda!

Anônimo disse...

Camila, a Revolução dos Cravos produziu revolucionários do tamanho de Otelo Saraiva de Carvalho, que ao organizar a prisão dos torturadores da PIDE, polícia política de Salazar,pediu aos companheiros revolucionários que não os prendessem na frente de seus filhos ou de crianças.
Não se tem aqui um homem que chegue aos pés dele.
Só esse bando de corruptos e lava-pés do Poder.
Revolução já.
Parabéns pelo blog muito instrutivo e bem escrito.

Anônimo disse...

Camila, a revolução começa pela beleza do teu sorriso e a confiança que ele inspira e só a juventude rebelde como deve e corajosa como é possui, a minha geração fez o que pode.
Só queríamos mudar o mundo, o que não é pouco, e mudamos.
Os melhores de nós morreram para que tua geração pudesse sendo jovem hoje, ser melhor do que fomos; amar mais, viver mais e levar nossa luta adiante.
Quem sabe tu não vais ser a Vera Silvia Magalhães da tua geração, ela tinha um sorriso igual ao teu.
beijo

Vitor Taveira disse...

disparado o melhor nariz-de-cera que já li!
sensacional o blog! ganhou um leitor
parabéns..

Tayago disse...

Camilinha ...
Acho que posso responder o questionamento levantado no final desse texto da mesma forma que você fez para falar da Revolta dos Cravos.
Utilizando o sonho, vejo que Camilinha era uma menina tímida, mas que desde cedo já se via como uma revolucionária ultra-jovem (qualquer associação ao TV CRUJ é mera conhecidência).
Me toca ver que num texto tão simples você consegue novamente abordar coisas complexas e que com esse formato descontraído de comunicação transmitir seus ideais ..
Agora convenhamos, Rainha controladora das massas foi demais...
E o pior é que eu estava esperando, ao chegar no final do texto, saber o que houve depois da briga do Cravo com a Rosa...

 
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