domingo, 6 de abril de 2008

Eu-bolinho de arroz

Desde a época da escola me recordo de ouvir meu professor de História dizer que “uma mentira dita dez vezes torna-se verdade”. Talvez isso nem fosse mesmo uma verdade, mas o fato é que ele falou isso tantas vezes e em tantas aulas que acabei internalizando esta teoria. A impressão que eu tinha era que não importava sobre o que ele falasse, se o sistema feudal entrava em crise, se a segunda grande guerra estourava ou mesmo se um branco na mente lhe ocorria, lá estava ela: a frase da verdade, ou da mentira, como preferirem.
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Peraí! Peraí! Como é que é a história, rapaz? Quer dizer que se eu disser uma mentira dez vezes levo a crer a quem a ouve que ela é a mais pura verdade? Bom, eu diria que o número dez, nesse caso, é meramente simbólico. E diria também que não somente uma mentira quando dita, mas qualquer coisa que seja exaustivamente repetida. Se realmente vira verdade ou não, isso é discutível, mas que gruda no cérebro, gruda. Ou que outra explicação posso dar à letras como a do “créu”, “piriguéti”, entre tantas outras coisas que não nos saem da mente?
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E foi assim que voltei da minha última viagem, disposta a assumir a identidade de um bolinho de arroz. Confesso que acordar, tomar café, almoçar, jantar, conhecer pessoas, interagir com elas, participar de espaços de formação, ir às festas, voltar “para casa” e dormir ao som de “Eu sou um bolinho de arroz/Minhas perninhas vieram bem depois/Os meus bracinhos ainda estão por vir/E eu não tenho boquinha pra sorrir/Por que? Por que? Por que?/Porque eu sou um bolinho de arroz...” faz qualquer um ter a convicção de que, no mínimo seu eu - lírico é um bolinho de arroz.
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A música é cantada com muita alegria, mas... Alguém saberia dizer por que o bolinho de arroz, mesmo com seus dentes tão branquinhos, não tem boquinha para sorrir? Talvez porque as perninhas tenham demorado para vir, ou porque os bracinhos ainda são inexistentes. Pode até parecer brincadeira, mas isso me fez pensar sobre toda essa discussão que temos visto sobre permitir ou não que pesquisas sejam feitas por meio da utilização de células-tronco embrionárias.
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A Igreja defende sua postura contrária à permissão alegando que pesquisas como estas sejam um atentado à vida. É válido lembrar que ela própria admite que a vida humana anda de mãos dadas com a vida do cérebro, tanto que a doação de órgãos é legítima a partir do momento que se constata morte cerebral. Então, como dizer que pesquisa com embriões são um atentado à vida quando, nas primeiras semanas, não há nem mesmo um sistema nervoso? Onde tem início a vida? Tomás de Aquino opinava que Deus infundia a alma no sexto mês.
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As células-tronco, também conhecidas como células-mãe, são células que possuem melhor capacidade de se dividir dando origem a outros tecidos do corpo como ossos, nervos, músculos e sangue. Permitir pesquisas desta natureza significa, para a vida de muitas pessoas, uma verdadeira transformação, e para a felicidade. Espero daqui a algum tempo poder ouvir muitas pessoas a cantar, com a mesma ou quem sabe até com mais alegria, que são verdadeiros “bolinhos de arroz” e que já podem sorrir porque já não lhes falta mais nada, ou que, se lhes falta, logo logo o que lhes falta estará por vir.

16 comentários:

G. disse...

Milinha...logo que eu comecei a ler, achei que tua maconha(caso tu fumace) tivess estragada, e que a lombra tinha sido mei torta sabe, mas com o decorrer to texto, a coisa começo a fazer sentido e de repente acho que fumamos da mesma maconha estragada....

concordo com tudo que tu dissestes...e ainda assino em baixo, viu como "boas" musiquinhas podem trazer otemas discussões?!


saudades de tu(ja)

^^

Unknown disse...

Poxa! Camilinha, dessa vez você me tocou. Gostei do texto por inteiro. O que uma agulhada assim ( de dizer que o texto nem é lá essas coisas) não faz com a gente né?
Tipo, uma linha do tempo e um fechamento como diz meu avô: SUPIMPA!

Tenho que adimitir, seu texto está diguino de 1° página!
Espero vc feliz com meu comentário...é sincero.
Beijos

elenmateus disse...

eu acabei de comer cuscuz de arroz!

cuidado!!! num fica divulgando tuas qualidades para leitores loucos por bolinhos de arroz!

nhé! :P

***

tava brincando ow. mas eu comi mermo cuscuz de arroz indagora hehe.
olha, eu num conheço a musiquinha do bolinho de arroz, me apresenta pq agora eu to me sentindo totalmente out. malzão. :(

Annelize Tozetto disse...

Minha neném...
Bem, sobre a didática do teu texto, eu não vou nem comentar porque aí você está careca de saber (afinal, todo neném é meio careca) que adoro seus textos e eles são ótimos.
O que me "pisou" no calo foram as células-tronco. O assunto foi bem levantado no teu texto e bem conduzido. O que me deixou com a "pulga" atrás da orelha é o lance da Igreja e estudos sobre células-tronco.
Até onde eu sei e onde me consta a Igreja não é contra a pesquisa feita com esse tipo de célula. Ela é a favor sim até porque ciência e religiosidade caminham sempre juntas (acredite nisso).
A Igreja Católica é contra o uso de embriões, de fetos para esse tipo de pesquisa. Porque aí vale a máxima de que é um crime contra a vida porque é somente isso que ela defende: a vida!
Existem diversas maneiras de conseguir fazer esses tipos de estudo, não é mesmo?(:

;)
Sempre na polêmica em? Sempre!

ps: nunca parei pra pensar sobre bolinhos de arroz e células tronco... que coisa não?

dane_ly disse...

que Viaaaagemm!! rs
mais do que o "jeito" de tu escrever eu gosto da tua capacidade de viajar!!!

saudades!
Xêru!!!

Camila Chaves disse...

nani:

acho que falamos a mesma coisa, a única coisa que mudou foi o final, que por sua vez, mudou tudo, não?

falei que a igreja defende uma postura contrária a de permitir que pesquisas sejam feitas por meio da utilização de células-tronco embrionárias.

hum... comecei a escrever e atentei para uma coisa: acho que não deixei claro o que é feito com o embrião após a retirada das células-tronco. nesse caso, então, tu fizeste uma ótima observação.

a "vida" do embrião é interrompida. eu sou católica, mas essa questão toda de que é somente a vida o que a igreja defende, é muito questionável e me deixa com uma grande e imensa pulga atrás da orelha, também. fico a me questionar sobre o que valeria mais, a vida de um embrião ou a vida de alguém prestes a perdê-la.

daria para puxar uma série de questões referente aos posicionamentos da igreja "em defesa da vida" que, por outro lado, implicam em tantas outras mortes, como a questão do aborto, por exemplo.

nhaaai... não gosto de falar sobre morte. espero jamais ficar careca de falar sobre isso. espero ficar careca por carequês, mesmo. cara, e é bem verdade que eu sou mesmo um tiquinho careca. rs.

ôoo! polêmica demais da conta, "sô"! quando pensei em escrever sobre isso, sabia que seria polêmico, mas decidi que não poderia me furtar dessa discussão. senti uma necessidade de me posicionar diante disso e me anima ver que outras pessoas, também.

enfim... piririm!

Anônimo disse...

Camilinha, nós da Mudança estamos realizando um seminario sobre trabalho escravo no Maranhao e reforma agraria. É importante a sua participação!! Sera nessa proxima sexta, viu?
Se tiveres interesse, deixa um recado no meu blog ou acessa http://mudanca-ma.blogspot.com/ que contem a programação, certinho?

beijos!
thalita.

Annelize Tozetto disse...

Sim neném!
Essa questão é polêmica e gera muita discussão. São tantas coisas pra levantar, defender... enfim. Mas valeu MESMO a iniciativa por aqui. Sempre é ótimo ter pessoinhas pensantes. Sempre.
(:
Mas calma, muitos debate hão de vir... e as idéias vão, com toda certeza, amadurecer. ;)

Beijos, beijos

Camila Chaves disse...

nani:

ontem, em mais uma "badalada-roda-de-conversa-de-estudantes-universitários" * (rs.)

entendi o que tu quiz dizer quando falou nas diversas outras formas de se conseguir fazer esse tipo de estudos, como, por exemplo, o uso de cordões umbilicais. estou descobrindo cada coisa... (rs.)

(=

*e pra quem não entendeu o "badalada-roda-de-conversa-de-estudantes-universitários": ler "o contrário de chocolate"

Tayago disse...

Milinha ..
Bom, antes de escrever, tu já soube meio que minha opinião.
Portanto vou lhe apresentar pensamentos aqui ...
Eu tive dificuldade para saber o que era o bolinho de arroz (que por sinal o desenho está lindo)
Da mesma forma tive dificuldade em compreender os impedimentos e não entender o porque das liberações e/ou proibições.
Acho que para resolver a discussão, o ponto a ser discutido é quando começa a vida ? E aí isso vai decidir todas as outras questões.
E infelizmente quanto a isso, eu não sei e nunca li nada sobre isso.
Para concluir, a igreja libera pesquisas com células tronco (menos a embrionária) por dizer que essas são vidas em potencial; tanto que um Pe. aqui do Rio irá se tratar.

Anônimo disse...

Eu amo teus textos!
Tinha que falar isso. ;x

Rafaela disse...

"As células-tronco, também conhecidas como células-mãe, são células que possuem melhor capacidade de se dividir dando origem a outros tecidos do corpo como ossos, nervos, músculos e sangue. Permitir pesquisas desta natureza significa, para a vida de muitas pessoas, uma verdadeiramente transformação, e para a felicidade."

Tu tava drogada?

Joliane Bimbato disse...

oi, camilinha só hj li teu recadinho no meu bloguinho, que está tão abandonado :(
estou sem pc e sem teto,
mas logo estarei bem alojada. rsrs
obrigada pela força :)

bjão
e continua escrevendo.. rsrs
tah fazendo sucesso!!!
:P

Alessandra Castro disse...

Muito bom seu texto, extremamente bem escrito, tinha q ser amiga da Rafa mesmo.

Voltarei aki mais vezes. Até pq, pouco conheço dos blogueiros desta ilha. ;)

Leo Maia disse...

Desde que ouvi Bolinho de Arroz eu ficava pensando. Essa música é boba, não diz nada. Achava até um sacrilégio quererem compará-la com a Canção Repetitiva

Agora entendo melhor a mensagem e acabei de me perceber também um bollinho de arroz. PORQUE? PORQUE? PORQUE?

Unknown disse...

devo dizer que a falta nos move, por isso não desejo que nada falte; se temos tudo, não nos vale viver e sempre sempre sempre querer suprir toda essa falta.
desejo então que a possibilidade de cura através da vida seja aceita por instituições como a Igreja.
e se quer minha opinião (claro que quer) só entendo q somos pessoas qnd alguém nos diz quem somos (bem filha de psicanalista,mas eh assim q eu penso, fazer o q!!)

 
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