quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Detalhes

A imagem, o cheiro, a cor, o sabor. Somos feitos de memórias e eu morro de medo de perder as minhas. Não de esquecer feitos imensos ou acontecimentos sob a luz dos grandes holofotes. Porque para esses terá havido sempre mais que um par de olhos de passarinho que os pudesse testemunhar. Falo daqueles relativos às coisas minoritárias, ao que é pequeno.

Quando papai decidiu fugir do desemprego indo embora do Rio de Janeiro para o Maranhão, mamãe deixou para trás tudo o que ela tinha. E o tudo agora se resumia a nós três e ao nosso neném pequeno, a minha irmã. Papai tinha cheiro de mar e pele corada de pescaria. Havia dificuldades ali, mas das coisas simples e bonitas, o nosso cotidiano se fazia.

A gente sentia falta. A gente escrevia cartas. A gente sofria de ausências. Quando papai não embarcava em rebocador de navio, subia em canoa e pescava. Nos finais de semana em que ele não estava, mamãe fazia galinha frita, farofa e salada de maionese para servir com o arroz e feijão preto de todo dia. Então ela arrumava a mesa e ligava o rádio para a gente ouvir a música tocar.

Havia um programa que passava naqueles dias e que reproduzia somente músicas de Roberto Carlos. Isso enfeitava o cenário da casa emprestada onde a gente morava e partilhava a nossa resiliência tão feminina. E a cada bloco, a vinheta vinha e a letra dizia: “Não adianta nem tentar me esquecer”. E foi percebendo o que ela sentia que descobri o que a saudade era.

Eram detalhes.
Eu lembro disso. E sinto saudades.

1 comentários:

Unknown disse...

Sem palavras Camilinha!! Mas saudade, eu sei bem o que é... Deus te abençoe, minha querida e amada sobrinha! Bjos

 
Copyright 2009 zine colorido
Convert By NewBloggerTemplates Wordpress by Wpthemesfree