domingo, 18 de julho de 2010

Com sabor de Ploc

Primeira metade da década de 90.

Graças a minha única e por isso melhor amiga, eu podia escolher pela espiada concedida pelas brechas feitas entre seus dedos, quem me tiraria de uma vez por todas daquele poço em que costumávamos cair todas as noites enquanto nossos pais assistiam ao jornal.

- Caí no poço! / Quem te tira? / - Meu bem. / Quem é teu bem? / - Alguém. / É esse? / - Não. / É esse? / -Não. / É esse? / - É! / Um aperto de mão, um beijo no rosto, um abraço ou um passeio completo? / - Um passeio completo.

Naquela época, um “passeio completo” tinha muito mais a ver com um beijo no rosto, um abraço e um passear de mãos dadas até o final daquela rua sem saída, do que com um traje que, mais tarde, seríamos obrigados a vestir por conta da formalidade de determinadas ocasiões.

De volta ao caso, a verdade era que graças à facilidade dada por quem fechava meus olhos na brincadeira, o meu escolhido era sempre o Cristiano, aquele dos tons de pele, olhos e cabelos de uma harmonia sem igual, e por quem eu nutria uma paixão tão grande que me fez fazer o que fiz.

Era uma bonita tarde de sol com a calma de pós-almoço que só as periferias têm quando decidi comprar um ploc para presentear o Cristiano. Não tendo eu resistido àquela gostosura em minhas mãos, avaliei que ele não se importaria caso eu lhe desse somente a metade. E assim o fiz.

Comi a parte de morango, porque naturalmente era a mais gostosa, e embrulhei a outra, cuidadosamente, em uma folha de caderno, porque eu precisava também ficar com a figurinha. Havia muito de romantismo em minhas ações. Feito o presente, pedi àquela amiga que o entregasse.

Ela voltou dizendo que o pedido havia sido entregue com sucesso, que Cristiano estava na sala quando o recebeu e que a família, ao ver a situação no mínimo engraçada, começou a rir e fazer uma verdadeira festa. O mais importante foi que ela disse também que ele havia ficado envergonhado.

Anos depois, quando já não mais masco chiclete, embora goste do gosto, reencontro aquela com quem compartilhei importantes momentos de minha infância. Conversa vai, conversa vem, e em meio a muitos risos ela confessa que, na verdade, o Cristiano nunca recebera aquele presente.

- Foi que eu comi a outra metade do ploc. - Confessou.

E como o tempo tem o poder de fazer com que uma mesma confissão possa te levar da acidez à doçura, sorrimos. Sorrimos porque esta, que poderia ter tido outro gosto, veio doce, como o sabor daquele saudoso ploc.

18 comentários:

Franck disse...

Camila, que texto lindo, com sabor de chiclete e de infância...lendo esse post, viajei na minha meninice: pés no chão, cara melada, banhos de rio, subindo em árvores, brincadeirs como a que vc relata... obg por me fazer voltar a esse longíguo tempo nessa noite de domingo!
PS: Só responda-me uma coisa, a amiga vc reencontrou e o Cristiano? Responda no meu ouvido, ninguém mais precisa saber...
Um beijo!

V. disse...

...[estou mascando trident sabor melancia]...
E eu me lembro bem do Ploc. Mas não imaginava que você tinha uma lembrança tão doce desse chicle. Não vale mesmo a pena ficar guardando mágoa.

Beijo.

V. disse...

PS: Por onde anda o Cristiano?

Camila Chaves disse...

hahahaha frank, vera e demais:

a antiga amiga tomou rumos bem distintos dos meus. nem mesmo mora mais em são luís e hoje praticamente não mais nos falamos.

e o cristiano, o curioso cristiano, continua morando aqui perto e chegou a casar-se com uma moça que mora na mesma rua onde passamos nossa infância.

são as lembranças mesmo, que são doces. e que depois de tempos, nos fazem sorrir. obrigada pelos comentários tão gostosos.

analeite disse...

Ô Camilinha...só tu mesmo pra enviar a metade de um chiclete de presente. Acho que tu e tua amiga, são mortas de fome...hahahaha...Ou então, ela tb gostava do Cristiano e tu, tão novinha, já etava envolvida em um triângulo amoroso. hahaha! (mente férfil.)

Ra disse...

ah que engraçado e gostoso de ler.

~*Rebeca*~ disse...

Adorei!

Seane Melo, Secoelho disse...

Não sei quem é pior nessa história! Tu ou a tua amiga! Mas, enfim, tu não gostaria de me emprestar esse teu amor platônico pelo Cristiano??

Adorei o texto! Muito inesperado XD

Camila Chaves disse...

hahaha o mais engraçado tem sido constatar em algumas conversas que muitas outras pessoas, se crianças, teriam comido também a outra metade do ploc naquela situação.

e seane, quanto ao pedido, pode considera-lo mais que emprestado.

um beijo,

Francilyz disse...

Gostei! lindo texto,vc a minha lindinha com um amor com gosto e cheiro de ploc escondendo de todos...hahahaha, lembrei da minha época que ploc era ping pong, e ainda vinha com anel,hoje é chiclete hahahaha.
Beijos!

Andréa disse...

hahaha! adorei esse texto. Mas os melhores são assim mesmo: simples e doces (literalmente).

Mas que engraçado você ter chegado dessa forma ao meu blog, haha, bem curioso mesmo.


Abraço, Camila, precisamos voltar a conversar... rs. beijo

Camila Castro disse...

eu nunca comi um ploc =/
e passou-se um domingo e o zine ficou abandonado ¬¬

ps. morri com essa de analeite xD

BEIJOS DE SAUDADES GIGANTES!

Abiodun Akinwole disse...

sensações e lembranças marcadas por pequenas coisinhas.

eu tbm lembro do gosto da minha infância de vez em quando^^.

abração.

Mochileira Latina disse...

Olá Camila! Que texto maravilhoso! Estás te aperfeiçoando cada dia mais nas letras. Vai fundo! voltando ao texto, ele me fez reportar à minha infância... combinado com o fim de tarde de hoje (o tempo e o céu, pq a correria da Solar não tem nada de infantil, rsrsrs)... e eu que já desejava curtir a sessão da tarde... bjus

Mochileira Latina disse...

E vc já descobriu quem é a mochileira latina?? Ah! tb quero saber por onde anda o Cristiano... e sobre o que as pessoas na sala riram.

Camila Chaves disse...

Andréia, obrigada pelo comentário elogioso. Hehehe. Quanto aos adultos, eles sorriram de toda aquela inocência, talvez.

Talvez, também, já que, como falei, aquela outra menina fizera questão de comer aquele meu presente preparado com tanto romantismo. Hahaha.

Bom, a ti e aos demais, uns abraços e até a próxima leitura.

Lutero disse...

Camilinha!!!!!
hahahah
Sempre me divirto com seus textos. =P
Hoje me lembrei do "chocolate ser o contrário de morango" e vim procurar teu blog de novo!
que jeito mais camilinha de Escrever...

Saudades das badaladas-rodas-de-conversa-de-estudantes-universitários.

Abraços!

Ianca disse...

Talvez eu seja um pouco desocupada, é uma delícia ler teu blog.

 
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