terça-feira, 1 de julho de 2008

Lembranças do meu São João

Por estes dias, deixei as cores do meu zine para me dedicar a outras cores. Foram fogueiras, estrelas e bandeirinhas todas coloridas em diversos tons. Vermelho, amarelo, cor de laranja, verde e azul entre tantas outras tonalidades misturavam-se, de forma única, a outros muitos sentidos.
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Eu, ser nostálgico que sou, não poderia me furtar da sensação que é poder compartilhar boas lembranças de minha não tão velha infância. Paro então e recordo que há mais ou menos quinze anos, o nordeste recepcionava minha família e eu desta forma tão alegre, carinhosa e acolhedora que chego a suspeitar que, de forma igual, não seja em nenhum outro lugar.
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Não havia quem nas bandas de cá chegasse e não desse um pulinho que fosse no famoso Ceprama. Foi lá que descobri que, algumas vezes, quando não estão sozinhas, as cores podem ser bem mais marcantes. Percebi que em meio aquela aquarela havia uma infinidade de sons: orquestras, matracas e pandeirões traziam alegria aos ouvidos e aos pelos do corpo, muita vibração.
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Do corpo é despertada também a fome e daí, a vontade é de comer todas aquelas comidinhas boas que nunca entendi porque só aparecem nessa época. Não sei se é uma espécie de máfia montada pelas danadas das quitandeiras, que resolvem dar sumiço à gostosuras como canjica ou mingau de milho, bolo de tapioca ou de macaxeira. Um dia ainda desvendo esse mistério.
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Como quando se chega perto de quem se gosta e se respira bem fundo, o cheiro que se sente agora é de bombinha, de chuveirinho, de rojão. E é criança gritando, e é menino correndo e é poeira subindo, porque arraial que era arraial, pelo menos naquela época, tinha que ter poeira. Nem que fosse das pedrinhas britas feitas especialmente para estalar as tais bombas de estalinho.
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Quanto às crianças, tudo era muito bem pensado nas festas de São João. Quando tem boi se apresentando, as crianças sentam bem na frente, na beirada da roda, e se encantam com a habilidade dos vaqueiros ou ar misterioso que só os cazumbas têm. Nunca entendi como é que uma criatura tão feia conseguia de mim retirar, ao mesmo tempo, medo, graça e encantamento.
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E quando a apresentação terminava, ao palco subia um animador para comandar, lá do alto, as brincadeiras infantis. E foi assim que eu, uma tradicional canceriana, a menina tímida que em outra ocasião quase morrera afogada em uma bóia levada pela correnteza, por vergonha de pedir socorro, me vi em cima de um palco a cantarolar para uma multidão.
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“Eu vou dar uma revistinha da turma da Mônica para a criança que vier até o palco e cantar uma música do Boizinho Barrica! Quem vai ser a criança?”, dizia e repetia o animador com uma empolgação que talvez somente ele mesmo tivesse. Como eu fui parar lá, realmente não sei. O que sei é que até hoje me recordo daquela vozzinha pequena que tomava conta do arraial ao dizer “lua lua cheia / que bate no meio das águas / que brilha na ponta d’áreia!”.
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Foi um sucesso! Foi minha primeira exibição em público e foi também minha primeira revistinha. Eu a li e reli tantas vezes que nem mesmo ousaria arriscar quantas foram. É surpreendente tentar entender como todos os anos essa mistura de cores, sons, gostos e sentimentos me fazem reviver as mesmas lembranças que aquela menina mufina e de voz tão pequena me fizeram descobrir. Não que hoje eu fale grosso, mas isso já é assunto para uma outra história...
 
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