segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Desentendimentos

Passou pela porta com o cigarro entre os dedos e parou próximo à janela da sala, onde se encostou. Organizou a carteira e o isqueiro, observou tudo em volta e manifestou algumas poucas palavras. Retomava-se assim nosso diálogo que, após tempos em desuso, seguia como de costume, cheio de conflitos e identificações.

– Gostei da mudança. Acho que vou dar um presente para a casa.
- É? O quê?
- Minha mãe...

Parou, levou o cigarro até a boca, fez uma conchinha com uma das mãos, riscou o isqueiro e tragou. Mas tragou como quem respira após uma longa série de nado submerso ou como quem suspira disfarçadamente. Fez tudo isso enquanto me ouvia suplicar por informações, exclamar um milhão de coisas e questionar suas ideias absurdas. E tão somente então, aliviada, completou:

– ...faz uns quadros ótimos de tapeçaria.

Passeio Público

Um passeio público é assim: tu escreves em um papel de forma livre, sem critérios sobre fonte, recuo ou espaçamento. A única coisa que se pede é que sejam feitas, no mínimo, três manifestações. Por sugestão, essas podem ser no flanelógrafo do prédio, na padaria da esquina e no mercadinho de dona menina. Pede-se também que a manifestação seja feita com, no mínimo, trinta minutos de antecedência. Se, durante esse período, ninguém se revelar contra a ação, pronto. Tudo feito. Do contrário, não há passeio público. O que não quer dizer também que não há passeio. Mesmo porque nem todo passeio precisa ser público. Ele pode ser escondido, uma passeada oculta, um role clandestino ou, simplesmente, uma fugidinha. 

- Comunicamos a quem possa interessar que estamos indo passear.
 
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