Acho graça da Fortaleza Apavorada que diz que não vai às ruas na próxima quarta-feira, quando acontecerá jogo do Brasil contra o México, justificando que a melhor forma de protestar contra os absurdos que acontecem neste país é indo vestido de preto à arena Castelão.
Na última semana, várias capitais do país explodiram em mobilizações que levaram às ruas milhares de jovens e trabalhadores, inicialmente debatendo a pauta do transporte público e de seus altos preços, mas ganhando proporções distintas e expulsando da garganta gritos de indignação que estavam há muito presos.
O valor cobrado por um ingresso para assistir a este jogo da Copa das Confederações em Fortaleza é quase o dobro do valor necessário para que um fortalezense possa comprar uma cesta básica, é mais de 80% do salário mínimo que se recebe após um mês inteiro de intenso trabalho.
Somos nós, os jovens e trabalhadores que não temos e que por isso não pagamos, os que mais sofremos com a falta de segurança que, quando não nos toma de assalto, nos espanca, nos detém, nos prende ou mesmo nos mata porque nos entende como inimigos.
É legítimo reivindicar segurança pública e protestar contra a violência, mas não questionar as causas desses problemas e a relação entre tudo isso e os governos é no mínimo inconsequente. Por isso é importante que se diga que entre nós há diferenças.
Diferente da Fortaleza Apavorada, nós – que também gostaríamos de assistir a Copa de perto – famílias removidas, trabalhadores em campanha salarial, estudantes sem carteirinha e sem direito à meia cultural, não estaremos de preto quarta-feira na arena Castelão, mas nas ruas, onde as lutas se darão.
1 comentários:
É isso mesmo! Belo texto. Estou compartilhando.
Saudações libertárias!
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