quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Banho de mar

Naquele fim de manhã, ao ligar a nova TV, era de admirar a notícia que se ouvia: - Todas as praias da orla desta ilha estão próprias para o banho!

Passado todo o tempo que antes havia sido perdido ou mesmo roubado, não havia espaço para repetições ou meras confirmações. A conjuntura era outra e a essas alturas, o enquadramento da câmera – derrubada no chão devido à tamanha comoção daquele cinegrafista – registrava somente o corre-corre dos pés aflitos em direção à porta mais próxima de saída.

A jornalista abandonou a bancada e nas salas das casas já não havia mais ninguém a assistir o jornal. Eram ganhas as ruas. Bikes, motocicletas, caminhadas coletivas, caronas solidárias, catracas livres: tudo valia para chegar o mais rápido possível a qualquer que fosse a praia. Não havia preparo de farofa, troca de roupa ou procura de boias e brinquedos que fizesse esperar.

Na praia, o mar estava cheio de outras vidas, mas seguia no aguardo da chegada de um punhado de outras mais. No horizonte, se via gente aos pulos de barcos, rebocadores, navios; no céu, o colorido de pipas, papagaios e balões soltos pelo vendedor pregoeiro em sua molhada cantoria; e na extensão de areia, eram centenas daqueles que pareciam infinitos isopores de picolés, carrinhos de água de côco gelada e banquinhas de mídias pirateadas.

Eu, que amei, reivindiquei e tantas vezes mergulhei amores, causas e mares que a TV e outros gigantes por tempos disseram ser probidos, naquele mesmo dia sentei na areia e assisti de lá toda euforia: houve gente que não se incomodasse com o sal que nos olhos ardia; que sorrisse com o caldo que da onda tomasse; ou que se afogasse porque na correria não lembrasse que nadar não sabia.

Mas era tempo de mergulhar no mar. Tempo de festejar a alegria.

Crônica em resposta à matéria divulgada ontem pela TV Mirante.
 
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