sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O ato de transformar

Respeitável público! Sinta-se à vontade para intervir, pois as cortinas que separavam palco e platéia acabaram de ser queimadas. Nesta mesma fogueira, que ainda faísca amarelos, laranjas e vermelhos nos mais distintos tons, jogou-se também uma trouxa bem amarrada repleta das mais diversas formas de opressão e padrões, inclusive aquele que negava a existência do teatro na essência humana. Vem, chega mais. Convido-te a transformar!
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Solte o corpo. Crie um ritmo. Crie um som. Crie o que tu quiseres, criar. Torne-se aquilo o que tu pretendes ser. Estamos no Teatro do Oprimido. Aqui, espectador é protagonista e, atrelado à vontade de transformar, ele tem o palco e não se furta de ir lá e pôr para fora tudo aquilo que lhe angustia, que lhe machuca, que oprime a ele e a seu semelhante. Assim, um bom exercício de cidadania e ética.
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Criado por Augusto Boal, o Teatro do Oprimido utiliza-se de meios estéticos para buscar alternativas de solução de problemas reais de opressão. Desta forma, pautados nos princípios da ética e da solidariedade, técnicas, jogos e exercícios, são capazes de fazer despertar em qualquer pessoa formas variadas de expressar sentimentos, dúvidas, opiniões.
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No Teatro do Oprimido, método hoje presente em mais de 70 países nos cinco continentes, a técnica mais praticada em todo o mundo é o Teatro-Fórum. Nesta ocasião, encena-se uma história real de opressão, seja ela de classe, gênero, raça, credo ou qualquer que seja a situação em que um personagem oprimido entra em conflito com um personagem opressor em defesa de seus objetivos, mas acaba por fracassar.
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A partir de então, sensibilizado, envolvido ou mesmo atormentado, o espectador é convidado a ocupar o lugar do personagem oprimido e propor, em cena, alternativas possíveis de transformação daquela realidade. O mais interessante de tudo é que neste jogo simples de encenações, mediado por um Curinga, facilitador do Teatro do Oprimido, democratiza-se os meios de produção cultural e fortalece-se a cidadania dos indivíduos.
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Boal diz que “o ato de transformar é transformador”. Aqui, no Teatro do Oprimido, como dois pesos que parecem dançar variantes em lados opostos de uma mesma balança, tudo o que não é proibido torna-se perfeitamente permitido, pois o objetivo é um só: usar a arte para melhor entender o mundo e entender o mundo para transformá-lo. Sendo assim, convido-te a transformar. Vem! Basta levantar e dar um passo à frente. Ao final, tu perceberás como esta cadeira aí, na verdade, nem é tão confortável quanto parece.
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Convite
Teatro do Oprimido de Ponto a Ponto
Data: 31 de outubro de 2008
Horário: 18h
Local: Museu Histórico e Artístico do Maranhão. Rua do Sol, 302. Centro Histórico. São Luís-MA.

sábado, 18 de outubro de 2008

Só um parêntese

Enquanto seus pés saboreavam passo a passo aquele chão cor de chocolate, a menina pensava (bom, para falar a verdade, não era só pensamento. Eram olhos sambantes, eram risos incontidos e caracteres saltitantes das pontas de seus dedos quase pequenos. Dedos esses que completavam aquela mão sobre o estômago vazio onde borboletas dividiam lugar com aquela fome tão típica das madrugadas. Ela também não gostava de parênteses, mas estava achando muito divertido escrever um texto inteiro dentro de um. Divertia-se mais ainda ao antecipar, em pensamento, o momento exato em que ele, o danado do parêntese, seria fechado e que a partir de então se começasse a falar sobre outra coisa qualquer. Na verdade, ela acabava de concluir que parêntese nada mais era que coisa de gente cínica. A pessoa abre, fala o que quer e o que bem entende, se declara, canta, resmunga, comenta ou faz sabe-se lá o quê, e depois fecha e finge que nada foi declarado, cantado, resmungado, comentado ou sabe-se lá o que feito. Para ela, era como dizer exatamente o que se queria dizer, mas deixar nas mãos do leitor a escolha sobre o entrar ou o saltar sobre aquele vão. Engana-se, e muito, quem salta parênteses. Ela pensou. Parêntese é coisa de gente esperta. Esperta e cínica. Pôs-se a pensar novamente) em quando seria a próxima vez que seus pensamentos ganhariam a virtualidade daquela tela.
 
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