sábado, 12 de abril de 2008

Pintos de amor

Dizem que quando algum dos sentidos nos falta temos esta carência recompensada em alguma outra habilidade. Um exemplo disso são pessoas de visão comprometida e que, em contrapartida, têm audição ou tato tão sensíveis que são capazes de reproduzir aquilo que, teoricamente, não poderia ser visto. Mas, como para toda regra há uma exceção, eu diria, e com bastante propriedade, que esta teoria não se aplica às pessoas com miopia.
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Ou, como explicar os dezenove mil e setecentos individuos que afirmam não escutar quando estão sem óculos? Nós, míopes, além de sermos dependentes de lentes que, de acordo com a Física, são capazes de nos deixar com olhar de peixe morto, temos esta dependência relacionada não somente à visão, mas também à nossa capacidade de audição e compreensão.
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E se esta tal compreensão estiver relacionada à questões musicais, por exemplo, é aí que o bicho pega, ou melhor, é aí que a banda toca. Para se ter uma idéia, sempre gostei muito de cantar e jamais me furtei de fazer isso por aí mesmo sabendo que não tenho voz de cantora pop, o mínimo daquilo que nos programas de auditório os “críticos” chamam de “presença de palco” ou ainda pelo fato de não compreender algumas boas e importantes partes de determinadas músicas.
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Fã de Cazuza desde pequena, demorei mais de quinze anos para entender que o exagerado, como prova do amor que sentia, fosse capaz de largar, além de carreira e dinheiro, o seu merecido canudo. Para mim, que fosse algo como “bururu” ou qualquer outra coisa que, quando resmungada, tivesse uma sonoridade parecida.
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Em outras situações cheguei a me ver transtornada em querer uma explicação para aquela que deve ter sido, sem sombra de dúvida, uma das mais intrigantes perguntas que a humanidade já viu: “como pode um peixe vivo, viver fora da ‘bacia’?”. Acreditar que um dia eu solucionaria aquele mistério me fez ter forças para continuar a vida e querer crescer. Daí, um dia desses, me aparece um adulto insensível e, como quem me joga um balde de “água fria”, me diz que a palavra final não poderia ser aquela. Por pouco não lhe quebro a "bacia"!
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Ainda bem que eu prefiro acreditar em crianças. Tanto que a resposta para o tal mistério encontrei ouvindo Diego e Thiago, ambos com idade entre três e cinco anos, enquanto brincavam aqui na porta. Eu parecia não acreditar naquilo que meus ouvidos alertavam. Tanto que fiz questão de parar o que estava fazendo e perguntar – como é, Diego? Como pode um peixe vivo viver fora de onde? – e ele com aquele jeitinho lindo, inocente, calmo e sempre sorridente, respondeu da mesma forma para todas as vezes que perguntei insistentemente como quem parecia não acreditar: da bacia!
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Mas e essa história toda de bacia, de onde vem? O Thiago respondia, quase que automaticamente a cada vez que eu perguntava “de onde?” e o Diego respondia “da bacia”, um bom e reluzente “de ouro”, e ele fazia isso com tanta convicção. Hum? Da bacia de ouro? Como assim? Ora, ou tu vais me dizer que não lembra da bacia de ouro ariada com sabão, enxugada com roupão e que pertencia à crioula sambante vinda da Bahia?
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Sei que basta o mínimo de lógica para compreender algumas palavras em determinadas músicas ou contextos, mas confesso que esquecer um pouco dessa mesma lógica e das coisas todas tão certinhas, se desligar do mundo, tirar os pés do chão, pode ser mil e uma vezes mais divertido. Por fim, acreditem em mim: um dia, um belo dia, mesmo que já não tenhamos tempo nem coragem para dialogar, vai chover “pintos” de amor.

18 comentários:

Rafaela disse...

Cara, tipo assim: eu sou uma pessoa surda quando tô sem meus fundos de garrafa. não enxergo um palmo à frente do nariz. Triste, isso.
...
e "pintos de amor"? depois tu diz que eu tava doida qd escrevi meu simples texto explicativo sobre os cafajestes....

Beto Corpin disse...

Se quer saber, canto os dois tipos. Canto a primeira vez um, e na hora de repetir, como se fosse um refrãozinho, canto o outro. Hehehe.

Na verdade existem duas músicas diferentes... O da crioula e do peixe vivo... hehehe

Glaucione disse...

Desculpa... mas essa imagem ainda merece outro texto!! heheheheh
simmmm... e a propósito, me identifiquei muito com o post, me faz relembrar certas conversas em um certo ônibus!!!
hehehe
beijao Camila
e como sempre... textos deliciosos!!

Anônimo disse...

Hummm... O "pintos de amor" e "fora da bacia" não são nada.Pior é quem canta "cobra com pavão" quando na verdade é "cobre a culpa vã".aEssa, é uma música de Marcelo Camelo e Maria Rita teve o prazer de ganhar de presente dele.
O texto está ótimo e agora tive a certeza que não sou só eu e nem é só Caila quem caanta errado. Somos crianças gandes e cntamos e entendemos errado sim e não temos vergonha nenhuma de assumir isso.=]

Alessandra Castro disse...

Meu pai diz q ninguem consegue subir escada e mastigar chiclete e quando vc para p/ fazer isso, realmente naum consegue. Eu quero uma chuva de pintos de amor.

elenmateus disse...

legal é cantar no onibus lotado em viagem p encontro: "te trago mil rosas douradas" (cazuza,saca né?)esta pérola faz parte do repertorio de juju (Juliana Lobo, jornalista)

:)

Davi Gentilli disse...

tem também o mais clássico equívoco dos míopes:

"trocando de biquini sem parar"

G. disse...

sempre achei que o peixe nao podiua viver fora da bacia....muito obrigada camilinha por acabar coma base da minha infancia...estragou meus sonhos e minhas crenças....

Anônimo disse...

HUAHUaUHHUAAUHAUHAUHAHU.
A Gica é dramática e ainda acaba com o texto da Camilinha.

(comentário denecessário, esse meu.);D

Mas eu acredito em tudo que tem na última estrofe.
Só isso que eu tinha pra falar. :D

Annelize Tozetto disse...

NOssa... tem tanta música que a gente confunde né? meodeoscomofasdae?
EU sempre fico chocada quando descubro que o que eu cantava não é bem do jeito que eu pensava que fosse... o.O
Nossas trocas musicais pela net que o digam né!? (:
Beijos

M. A. Cartágenes disse...

Pintos de amor.... que divertido.
;)

Bernard Freire disse...

Uma música??
"Pintos do amor"
(sem ideias)
Gostei do bolinho de arroz!!

Seane Melo, Secoelho disse...

^^
Post feliz \o/
E eu que pensava que a dona Chica vinha de um lugar que chamava "Mirocêcê"!
Camilinha de São Luís!
Dona Chica de Mirocêcê!

M. A. Cartágenes disse...

Seja bem-vinda ao meu mundinho individualista e excêntrico!

Critique, comente, fale, chore, ria, zombe do que quiser!

Paz aew moça!

gato de Schrödinger disse...

Este gato desconhecido que "se intromete" em seu blog - e que, diga-se de passagem, o achou deveras interessante e promete retornar, mesmo sem convite - também confessa que já cantou feliz e ingenuamente canções com a letra errada. Afinal, quem nunca entendeu sequer uma palavrinha erradamente? Desde umas músicas do Só pra Contrariar, até Legião Urbana, sempre eu cantava uma parte que com certeza não viera da imaginação do artista.

Mas, pior mesmo, é quando a letra não tem pé nem cabeça e, inacreditavelmente, é a correta! "Fazer valer, fazer valer, fazer valer na cama/ Fazer valer gostoso/ Pro gozo virar lama"

Vai saber o que isso quer dizer...

Unknown disse...

Pintos de Amor...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, tou rindo até agora.

Camilinha, tenho de adimitir.

Sou fã dos seus textos! Aiiii

Camila Chaves disse...

"fi-xa-ção, seus olhos no MEU PRATO"

kid abelha

Camila Chaves disse...

em vapor barato, de zeca baleiro:

"não preciso de muito dinheiro, graças a deus..."

eu sempre cantei:
"não preciso de 'moinhos de ventos' (?), graças a deus..."

hahahahah e ainda pensava comigo, "nossa, o zeca baleiro é mesmo o máximo. ainda deixa na música dele uma deixa para a música dom quixote, de engenheiros do hawaí "tudo bem até pode ser que os dragões sejam moinhos de ventos". hahaha.

 
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